INTRODUÇÃO Fístulas são comunicações anormais entre duas su-perfícies epitelizadas e o seu surgimento representa uma séria complicação. Em função disso, há poucos problemas cirúrgicos que necessitem mais atenção do que uma fístula digestiva (FD). Até 85 % ocorrem como complicações pós-operatórias, especialmente em situações de urgência. Acon-tecem normalmente entre o quinto e o décimo dia pós-ope-ratório (PO), em função de problemas na linha de sutura como tensão excessiva, má vascularização e técnica inade-quada. Qualquer circunstância em que haja um defeito na parede do órgão ou crie condição que interfira com a cica-trização normal pode levar à formação de uma FD. Alguns dos fatores implicados podem ser controlados pelo cirur-gião, como o preparo pré-operatório adequado, uso corre-to de antibióticos, técnica cirúrgica meticulosa, fechamen-to seguro da parede e manutenção de transporte adequado de oxigênio no PO 1,2. Os autores fazem uma revisão acerca das fístulas di-gestivas com ênfase nas complicações pós-trauma, desta-cando classificação, fisiopatologia, complicações, métodos diagnósticos e tratamento. O tema será abordado estratifi-cando-o em relação ao órgão fistuloso. CLASSIFICAÇÃO As FDs podem ser classificadas do ponto de vista anatômico, fisiológico e etiológico 1. 1) Anatômico: Podem ser divididas em internas (comu-nicações anômalas entre órgãos intracavitários, p.ex., fístula colecistoentérica) e externas (entre um órgão intracavitário e a superfície cutânea, p.ex., fístula co-lotocutânea). A Tabela 1 inclui detalhes anatômicos e seus significados quanto à evolução. 2) Fisiológico: O volume do efluente em 24 horas classi-fica as FDs em alto (maior que 500ml), moderado (en-tre 200 e 500ml) e baixo (menor que 200ml) débitos. Esses valores são importantes ao se considerar o trata-mento, uma vez que o débito fistuloso, além de produ-zir importante impacto fisiológico é fator prognóstico independente de probabilidade de fechamento e de óbito. 3) Etiológico: Refere-se ao processo que determinou o surgimento do processo fistuloso, p.ex., apendicite, di-verticulite e trauma. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO O manejo das FDs obedece a etapas que se iniciam no reconhecimento de fatores que possam determinar seu surgimento como o tipo de operação, lesões existentes, cor-reção efetuada, sendo a atenção aos aspectos técnicos fundamental na sua "prevenção". Além desses, há fatores como presença de corpo estranho, radioterapia prévia, doenças inflamatórias intestinais, epitelização do trajeto, neoplasia associada e obstrução distal que podem prejudicar seu fe-chamento 3,4. Devem ser controladas as complicações mais ameaçadoras das FDs como o distúrbio hidreletrolítico, sepse e desnutrição. Para tal, hidratação adequada, uso cri-terioso de antibióticos, correção da anemia, drenagem da coleção ou abscesso, suporte nutricional e controle do dé-bito fistuloso são indicados 5. O uso do jejum absoluto e do
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Souza, H. P. de, Gabiatti, G., & Dotta, F. (2001). Fístulas digestivas no trauma. Revista Do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, 28(2), 138–145. https://doi.org/10.1590/s0100-69912001000200011
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