Desde as últimas décadas do século XX, a América do Sul passa por profundas mudanças políticas e econômicas que a tornaram mais democrática e liberal. Contudo, os processos de democratização política e liberalização econômica não convergiram espontaneamente na região. Ao contrário, esses dois processos estruturais apresentaram grandes incompatibilidades. Em resposta à agenda neoliberal, hegemônica durante os anos 1990, novos líderes e governos surgiram na virada de século com tendências mais nacionalistas e à esquerda do espectro político, porém marcando um movimento muito mais heterogêneo em comparação com a uniformidade observada na década imediatamente anterior. O artigo predispõe-se a descrever e explicar brevemente esses movimentos e contra-movimentos sul-americanos com o argumento de que a ascensão de novas lideranças ao poder nada mais é do que uma maneira plural de as sociedades tentarem reagir, pelo voto, a essa contradição de sua época. O artigo realiza uma breve discussão sobre a elevação e a queda do neoliberalismo na região, os limites do nacionalismo que passa então a emergir e os desdobramentos populistas do institucionalismo periférico. O artigo conclui sugerindo que a divisão analítica convencional na área entre institucionalismo e populismo, ou entre neoliberalismo e modelos nacionalistas anacrônicos, não deve levar o debate teórico nem as democracias na prática para muito longe. Na realidade, as contradições vividas nas últimas décadas estão redefinindo a política na América do Sul, para o novo século, de uma forma inédita e cujo resultado final é imprevisível.Depuis les années 80, l'Amérique du Sud subit de profonds changements politiques et économiques qui l'ont rendue plus démocratique et libérale. Néanmoins, les processus de démocratisation politique et libéralisation économique n'étaient pas convergents dans la région. Au contraire, ces deux processus structuraux s'avéraient incompatibles. Suite à l'agenda politique néo-libéral, jouissant d'une hégémonie dans les années 90, au tournant du siècle, sont nés de nouveaux leaders et gouvernements à tendance nationaliste et à gauche de la politique, qui révélaient un mouvement plus hétérogène par rapport aux années 80. L'article décrit et explique brièvement ces mouvements et contre-mouvements sud-américains, appuyé sur l'idée que l'arrivée au pouvoir de nouveaux dirigeants signifie tout simplement la tendance des sociétés à réagir à travers le bulletin électoral à cette contradiction de l'époque. L'article propose un débat rapide sur l'ascension et la déchéance du néo-libéralisme dans la région, les limites du nationalisme naissant et les effets populistes de l'institutionalisme périphérique. L'article suggère à la fin que la division analytique conventionnelle du domaine entre institutionalisme et populisme, ou bien entre néo-libéralisme et modèles nationalistes anachroniques, n'est pas capable de faire avancer davantage non seulement le débat mais aussi les démocraties en vigueur. En réalité, les contradictions vécues au cours des derniers temps redéfinissent la politique en Amérique du Sud vers un nouveau siècle, d'une façon inédite et dont le résultat est imprévisible.Since the last decades of the twentieth century, South América has been undergoing deep political and economic changes that have moved the continent in a more democratic and liberal direction. Nonetheless, processes of political democratization and economic liberalization have not converged spontaneously within the region. On the contrary, these two structural processes have demonstrated considerable incompatibility. In answer to the neo-liberal agenda that was hegemonic throughout the 1990s, new leaders and governments have emerged at the turn of the century with more nationalist tendencies and tending toward the left of the political spectrum. Yet the heterogeneity of these movements contrasts sharply with the uniformity that prevailed in the immediately preceding decade. This article attempts to provide a brief description and explanation of these South American movements and counter-movements. The basic argument is that the rise of new leaders to power is nothing more than the plural way in which these societies have attempted to react, through the vote, to this contradiction of their times. The article provides a brief discussion of the rise and fall of neo-liberalism within the region and the limits of the nationalism that then emerges, as well as of the populist turn taken by peripheral institutionalism. It concludes by suggesting that the conventional analytical division between institutionalism and populism, or between neo-liberalism and anachronic nationalist models, will not take theoretical debate nor the practice of democracy very far. In truth, the contradictions of recent decades are promoting the re-definition of politics in South América, for the new century, in ways previously unseen and whose final results cannot be foretold.
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Coutinho, M. (2006). Movimentos de mudança política na América do Sul contemporânea. Revista de Sociologia e Política, (27), 107–123. https://doi.org/10.1590/s0104-44782006000200008
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