Nos anos 30 e 40 do século XX, o Secretariado da Propaganda Nacional – órgão máximo da propaganda do regime de Salazar – desenvolveu um largo conjunto de iniciativas folcloristas que marcaram a memória crítica do Estado Novo. Este artigo sonda os limites de uma interpretação que reduz tal política a um instru-mento de domesticação do povo, mostrando que é nos mecanismos de afirma-ção da nação, dentro e fora das fronteiras portuguesas, que podemos encontrar a explicação mais pertinente para a campanha etnográfica então empreendida. E é em função de tal proposta que abordaremos ainda os processos de mani-pulação e selecção dos materiais da cultura popular aí implicados, mostrando como, através dos mesmos, o SPN / SNI veiculou um retrato do país baseado na imagem do povo português enquanto camponês-esteta. PAlAvrAS-chAvE: Estado Novo, SPN/SNI, António Ferro, arte popular, nação, camponês-esteta. ArtE PoPulAr E NAção NA PolítIcA FolclorIStA do SPN / SNI Entre as ideias que constituem a memória crítica do Estado Novo português, está a de um regime criador de perfis idílicos da nação, encenador do mundo campestre das aldeias, inventor de ranchos folclóricos e de galos de Barcelos. como se sabe, um dos principais contributos para a construção dessa ima-gem foi dado pelo Secretariado da Propaganda Nacional, o órgão máximo da propaganda do regime, criado em 933 e dirigido durante os primeiros dezas-seis anos por António Ferro, figura proeminente do primeiro modernismo, escritor e jornalista. de facto, desde o início da sua actividade que o Secre-tariado da Propaganda Nacional, também conhecido por SPN e mais tarde Este artigo e o texto da comunicação que lhe serviu de base resultam da investigação desenvolvida no âmbito da realização de uma tese de doutoramento que foi objecto de uma bolsa concedida pela Fundação para a ciência e a tecnologia ao abrigo do Programa Praxis XXI.
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Alves, V. M. (2007). “A poesia dos simples”: arte popular e nação no Estado Novo. Etnografica, (vol. 11 (1)), 63–89. https://doi.org/10.4000/etnografica.1951