O artigo a seguir discute o paralelismo entre caça, guerra e saúde, enfatizando as atividades de um pequeno grupo de caçadores, habitantes da porção noroeste do estado do Maranhão, os Awá-Guajá. Partindo de um episódio ocorrido no ano de 2008 na aldeia Juriti – que revelou aspectos importantes para a presente discussão – a caça e suas implicações guerreiras serão exploradas aqui segundo a etiologia das doenças e através das noções de ha’aera e pãnẽmũhũm, elementos que regem boa parte da relação entre caçadores e presas. Apresento um universo de agressões morais sofridas por caçadores e discuto uma sintomatologia particular só passível de entendimento quando são reveladas as concepções awá-guajá sobre a pessoa humana e as relacionamos com o universo da floresta, em geral, e a zoologia das presas, em particular. Argumento que as agressões físicas e morais dos animais à vida humana são centrais para o entendimento do que se configura como a “caça awá-guajá”, sendo o conhecimento sobre a origem de tais agressões (que acarretam sorte e azar; saúde e doença) parte importante do conjunto de saberes que regem a relação entre humanos e animais.The following article discusses the parallels that exist between hunting, war and health among a small group of hunters, the Awá-Guajá, currently residing in the state of Maranhão (Brazil). Based on an episode that occurred in 2008 in their village of Juriti – revealing important aspects of the current discussion – hunting and its warrior implications will be explored from the etiology of disease, namely, through the notions of ha’aera and pãnẽmũhũm, elements governing a large part of the relationship between hunters and their prey. Thus, I present a scenario whereby hunters suffer a moral aggression, and discuss a particular symptomatology, which is only understood when we embrace Awá-Guajá conceptions of human personhood, relating these with their views of the natural world, and zoological prey in particular. I argue that the physical and moral aggression of animals directed at human life is central to understanding of what constitutes “Awá-Guajá hunting”. Comprehending the origin of such attacks (which lead to fortune and misfortune, health and disease) comprises an important part of their body of knowledge governing the relationship between humans and animals.
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Garcia, U. F. (2015). O funeral do caçador: caça e perigo na Amazônia. Anuário Antropológico, v.37 n.2, 33–55. https://doi.org/10.4000/aa.127
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