O presente artigo se propõe a fazer uma análise do uso generalizado da expressão 'qualidade de vida' nas linguagens técnicas e cotidianas nas sociedades ocidentais contemporâneas. A ampla utilização desse termo é acompanhada por uma indeterminação de seu significado e por uma concepção naturalizada de sua origem. Objetivo, então, analisar os processos pelos quais o termo qualidade de vida foi impregnado de sentido na nossa cultura, assim como argumentar que a grande relevância simbólica adquirida contemporaneamente pela qualidade de vida nas ciências biomédicas, nas políticas de saúde e nas práticas individuais relativas à saúde está relacionada com um mais amplo processo de inserção dos aspectos biológicos da vida no campo político. Dessa forma, apresento brevemente o surgimento e o desenvolvimento da biopolítica na modernidade, assim como analiso algumas das características da biopolítica contemporânea, a partir do que são apresentadas as concepções de estilo de vida, promoção de saúde, risco, autonomia e responsabilidade, que, articuladas, constituem o atual campo semântico no qual a saúde é problematizada. Dessa forma, procuro situar a atual preocupação pela qualidade de vida, assim como apresentar alguns dos problemas que se articulam a ela, como a responsabilidade individual pela própria saúde e a medida da qualidade de vida.This article is an attempt to analyze the widespread use of the term 'quality of life' in everyday language and techniques in contemporary Western societies. The broad use of this term is accompanied by an uncertainty with regard to its meaning and a naturalized conception of its origin. The goal, therefore, is to analyze the processes by which the term quality of life was imbued with meaning in our culture and to argue that the major symbolic meaning acquired contemporaneously by quality of life in the biomedical sciences, health policies, and practices relating to individual health is related to a broader process of integrating biological aspects of life in the political field. Thus, I briefly introduce the emergence and development of biopolitics in modernity, and analyze some of the characteristics of contemporary biopolitics based on how the concepts of lifestyle, promotion of health, risk, autonomy and responsibility are presented which, together, constitute the current semantic field in which health is problematized. Therefore, I seek to situate the current concern for quality of life, as well as to present some of the issues that are linked to it, such as individual responsibility for one's own health and the measure of quality of life.
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Gimenes, G. de F. (2013). Usos e significados da qualidade de vida nos discursos contemporâneos de saúde. Trabalho, Educação e Saúde, 11(2), 291–318. https://doi.org/10.1590/s1981-77462013000200003
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