A influência da religião na vida social e política brasileira tem constantemen te atraído o interesse dos estudiosos. Devido ao seu tamanho e importância a Igreja Católica Romana tem tradicionalmente sido o alvo das atenções. Nas últimas décadas, a quase totalidade das análises se concentraram na natureza e no papel das CEBs, tendo em vista sua oposição ao regime militar e sua declarada intenção de estabelecer uma nova cultura democrática e uma nova ordem social. Poucos estudiosos perceberam que o campo religioso brasileiro estava passando por pro fundas mudanças que alterariam consideravelmente o panorama social e político brasileiro. Sem dúvida, uma das maiores novidades na redemocratização do país foi a emergência na arena política de grupos religiosos outrora ausentes. Essa presença, já bastante evidente na Assembléia Nacional Constituinte em 1986, se acentuou mais nas últimas eleições, deixando claro que o fator religioso ainda continuará a ser decisivo por muito tempo na vida social e política brasileira. A irrupção desses grupos religiosos, genericamente denominados protestan tes ou evangélicos, na vida política do país reflete seu crescimento espetacular, especialmente durante o regime militar, embora já pudesse ser notado antes e tenha se acelerado depois dele. Nos últimos anos, a visibilidade social desses grupos tem despertado a atenção de estudiosos oriundos de diversas áreas de conhecimento, principalmente sociólogos, antropólogos e cientistas políticos. A crescente biblio grafia busca responder basicamente dois questionamentos. Primeiro, por que esses grupos são tão atraentes em um país tradicionalmente católico? Segundo, qual o impacto social, econômico e político dessa mudança religiosa? As respostas a essas questões são diversas, divergentes e algumas vezes opostas. Muito dessa diversidade é decorrente da ausência de uma tipologia que permita a distinção, no mínimo, dos grupos majoritários e suas características principais. Essa ausência de tipologia também tem permitido o surgimento de generalizações e deduções que, ao serem escrutadas mais detalhadamente, se mostram imprecisas1. Uma delas é que o protestantismo é politicamente passivo e por isso tem atraído as massas que não concordam com o engajamento político do catolicismo progressista2. Outra, bastante próxima dessa, é que os protestantes, notadamente os pentecostais, ao se isolarem da política propriamente dita, não oferecem nenhuma ameaça ao status quo, mas criam espaço para a participação das massas na sociedade civil3. Outra é que o pentecostalismo encoraja a ação coletiva e desenvolve a conscientização social4. Ainda outra é que o pentecostalis-47
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Mesquiati Oliveira, D. (2019). PENTECOSTALISMO E POLÍTICA NO BRASIL. INTERAÇÕES, 14(25), 08–12. https://doi.org/10.5752/p.1983-2478.2019v14n25p08-12
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