Fernando Freitas & Paulo Amarante nos revelam no livro Medicalização em Psiquiatria uma impor-tante e urgente discussão sobre como nossas vivências têm se tornado cada vez mais insepa-ráveis do discurso biomédico. É pela análise do fenômeno da medicalização na sociedade oci-dental que os autores discorrem sobre algumas das consequências individuais e sociais da alian-ça entre a psiquiatria e a indústria farmacêutica, sobretudo após meados do século XX quando a psiquiatria biológica ganha força no cenário de tratamento dos chamados transtornos mentais. O livro é o resultado da uma robusta análi-se teórica e metodológica dos paradigmas do fenômeno da medicalização mediante análise no campo da saúde mental. Os capítulos do li-vro certamente foram planejados para condu-zir a leitora às principais práticas discursivas da psiquiatria e suas consequências na realização do sistema classificatório das doenças men-tais, que está intimamente relacionado ao uso cada vez mais difundido de psicofármacos pa-ra o tratamento das mais diversas experiências da existência. O capítulo 1, Diversas Faces do Fenômeno, nos apresenta alguns dos principais teóricos críti-cos ao estatuto da patologia e do controle social exercido pela medicalização da doença mental. Pelos teóricos abordados, os autores fazem re-flexões sobre como o fenômeno da medicaliza-ção foi desenvolvido na literatura científica até a consagração da indústria farmacêutica e o uso de medicamentos como centralidade terapêutica das formas mais variadas de classificação do so-frimento mental. O segundo capítulo, intitulado Diagnosticar Doenças, se inicia com o conto O Alienista, de Machado de Assis. Se no conto a personagem médico-alienista conclui que a loucura deve ser regra no mar de sujeitos apenas aparentemente normais porque mal examinados, Freitas & Ama-rante nos mostram que na história da constru-ção dos sistemas classificatórios dos transtornos mentais essa realidade não parece se distanciar da ficção. A história das várias alterações, em pouco mais de cinquenta anos de existência, do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtor-nos Mentais) produzido pela American Psychia-tric Association dos Estados Unidos (APA), bem como suas controvérsias no campo científico são levantadas e discutidas no capítulo. Os autores nos apresentam um importante desafio em que o principal sistema classificatório da psiquiatria é lançado: como lidar com os imperativos cientí-ficos da confiabilidade e validade em um sistema de classificação de doenças mentais que constrói socialmente suas próprias categorias de normal e patológico? É por meio de estudos publicados em revistas internacionais de grande prestígio que os autores colocam em xeque as afirmações em defesa da variedade crescente de classifica-ções psiquiátricas, bem como da necessidade de tratamentos manicomiais e do uso de psicofár-macos como regra. No capítulo 3, Medicalização: Incluir ou
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Brito, L. S. (2017). MEDICALIZAÇÃO EM PSIQUIATRIA. Cadernos de Saúde Pública, 33(1). https://doi.org/10.1590/0102-311x00162316
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