Nos exemplos a seguir, veremos que a resposta a essas perguntas não é fácil e exige amplas discussões dos pon-tos de vista social, médico e principalmente ético. BANCOS POPULACIONAIS DE DNA: UM BENEFÍCIO OU UMA AMEAÇA? Em um artigo recente, Dawkins (1998) discute os prós e os contras de se ter um banco nacional com os dados de DNA (" fingerprint " ou impressões genéticas) da popula-ção. Seria um benefício ou uma ameaça? Na Inglaterra, onde já existe um banco de DNA com mais de 300 mil amostras, seus defensores argumentam que ele é muito importante para identificar criminosos ou infratores da lei. Mas quais seriam as possíveis implicações do uso negati-vo dessas informações, como por exemplo, em testes de paternidade? No livro O animal moral: psicologia evolutiva e vida cotidiana, Robert Wright sustenta que a infidelidade tem razões genéticas mais fortes que os pa-drões morais. De acordo com essa hipótese, seria uma van-tagem evolutiva para garantir descendentes " geneticamente melhores " , isto é, a manutenção e propagação de genes " melhores " . Realmente, estudos populacionais estimam que a taxa de falsa paternidade seja da ordem de 10% e, conseqüentemente, um grande número de homens acredi-ta erroneamente que é o pai biológico de seus filhos, a maioria sem nenhum questionamento. Qual seria o impacto projeto genoma humano (PGH) tem como obje-tivo identificar todos os genes responsáveis por nossas características normais e patológicas. Os resultados a longo prazo certamente irão revolucionar a me-dicina, principalmente na área de prevenção. Será possível analisar milhares de genes ao mesmo tempo e as pessoas poderão saber se têm predisposição aumentada para certas doenças, como diabete, câncer, hipertensão ou doença de Alzheimer, e tratar-se antes do aparecimento dos sintomas. As vacinas de DNA poderão eliminar doenças como a tuber-culose ou a Aids. Os remédios serão receitados de acordo com o perfil genético de cada um, evitando-se assim os efei-tos colaterais. Paralelamente a esses avanços, inúmeras ques-tões éticas já estão sendo discutidas e outras irão surgir. Mas, por enquanto, as implicações éticas, legais e sociais dos conhecimentos gerados pelo PGH em relação às caracte-rísticas normais e patológicas e sua integração na clínica médica têm sido discutidas no ambiente acadêmico. Na prá-tica, entretanto, já estão sendo desenvolvidos testes gené-ticos para a escolha do sexo de futuros bebês e bancos de DNA da população. Um número crescente de laboratórios oferece testes de DNA para doenças hereditárias ou para determinar se uma pessoa tem maior risco de desenvolver certas doenças como câncer ou doenças cardíacas. Será que as pessoas que se submetem a esses testes sabem o que exatamente está sendo testado? O que significa um teste positivo? O que significa um teste negativo? Resumo: Os avanços na tecnologia da biologia molecular têm sido tão rápidos que o número de testes genéti-cos disponíveis, tanto para características normais como patológicas, estão aumentando dia a dia. Enquanto questões éticas a ela relacionadas estão sendo debatidas no âmbito acadêmico, os laboratórios estão disputan-do a possibilidade de desenvolver e aplicar testes de DNA, pois do ponto de vista comercial os interesses são enormes. Neste artigo, ilustramos com alguns exemplos reais a complexidade de algumas situações e a dificul-dade de se tomar decisões em benefício dos envolvidos, evidenciando a importância de se discutir questões éticas com toda a sociedade. Palavras-chave: biologia molecular; ciência e ética; pesquisa e mercado.
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ZATZ, M. (2000). Projeto genoma humano e ética. São Paulo Em Perspectiva, 14(3), 47–52. https://doi.org/10.1590/s0102-88392000000300009
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