Considerando a exploração dos efeitos materiais de exercícios do poder relacionados à inovação agroalimentar, abordamos a emergência de espaços de ambiguidade sócio material, surgidos da exploração do potencial econômico da agregação de valor a alimentos territoriais. A ilustração empírica vem do caso do Merkén, que é uma combinação de pimentas defumadas e moídas, cuja origem é atribuída ao povo Mapuche, no Chile. O reconhecimento das potencialidades do alto valor gastronómico deste condimento o transforma em uma inovação comercial, fazendo surgir tensões entre as formas de produção industrial, semi-industrial e a artesanal. A última, baseada em receitas singulares desenvolvidas por famílias camponesas, provém da relação biocultural entre os atores sociais e o ají-merkén, destacando-se o conhecimento dos ecotipos de pimenta, seu cultivo e do detalhado processo de defumação, além de relações consolidadas em mercados regionais. Identifica-se que, inovar para além do ‘comercial’, tem a ver com desafio de superar normas padronizadas, que tendem a provocar perda da integridade que identifica o produto com seu território. O artigo, então, mostra que a materialidade envolvida na inovação tem a capacidade de transformar relações de poder e a autoridade que constituem produtos territoriais; e que os espaços de inovação têm natureza ambígua, oscilando entre as vantagens que o mercado oferece e uma multiplicidade de reconfigurações da materialidade e da organização social situada.
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Arce, A., & Charão-Marques, F. (2020). Espaços ambíguos e a inovação neoliberal contemporânea: o caso do Merkén. Redes, 25(1), 9–31. https://doi.org/10.17058/redes.v25i1.14389
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