No pressuposto de que a recepção segue o caráter ativo do processo que gerou a obra, este artigo tem como objetivo investigar os vetores estéticos que incorporam em seus fundamentos a proposta de aber-tura para a recepção. Primeiramente e por exclusão, analisaremos o porquê de as noções de arte como fazer, de arte como conhecimento e de arte como expressão, quando manifestas de forma excludente e absolutizadas em si mesmas, não bastarem para explicar a idéia de abertura estética. Em segundo lugar, estudaremos os conceitos de arte como jogo, de arte como tradução criativa, de arte como formativi-dade e de arte como comunicação e linguagem, considerados como contributos teóricos para a com-preensão da dinâmica que rege o ciclo recíproco entre o pólo da produção e o da recepção. Uma forma é uma obra realizada, ponto de chegada de uma produção e ponto de partida de uma consumação que-articulando-se-volta a dar vida, sempre e de novo, à forma inicial, sob perspectivas diversas. UMBERTO ECO 1. As Necessárias Confluências 1.1. Arte como fazer? Historicamente, a arte entendida como fazer remonta à Antigüidade. As obras de arte eram consideradas artefatos fabricados com um propósito. A essa época, a obra era apreciada em razão da eficiência técnica nela demon-strada e também pela apreciação moral ou social dos seus efeitos, já que era considerada como um artefato que atendia a um determinado interesse 1. As diferenças econômicas e sociais eram o elemento que demarcava a divisão entre artes servis e artes liberais; deste modo, confirmando-se a sepa-ração entre a categoria dos artífices (e aqui estava incluso o artista), encar-regados dos ofícios que aliavam o útil ao belo (escultura, pintura etc.) e aque-la dos homens cultos e cavalheiros, responsáveis por atividades supostamente maiores como a música, a poesia e o teatro. A arte manifestava-se como uma forma de fazer em função de sua adequação a uma dada finalidade, já que tanto a atividade do tecelão quanto a do pintor faziam parte do universo da tekné, referida como toda e qualquer atividade produtiva, nela inclusa também a arte. Na Idade Média, mantém-se ainda essa não diferenciação entre arte e técnica. É no Renascimento que se vislumbram os prenúncios de efetivação da sepa-ração entre obra e artefato. A pintura e a escultura passam a ser incluídas no contexto das artes liberais. Como diz Osborne 2 , o artista é posto em evidência pela sua condição de erudito e cientista, e a arte tende a evidenciar-se pela natureza predominantemente intelectual da sua apreciação. Esta tendência vai se firmando, paulatinamente, por entre o barroco e o neoclássico, até que no século XVIII, com a publicação da Aesthetica de Baumgarten, dá-se a constituição da estética como disciplina autônoma, cami-nhando-se decisivamente para a separação entre o artista e o artífice. A arte bela conquista a sua autonomia, distinguindo-se do artesanato e da noção de
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Tavares, M. (2003). Fundamentos estéticos da arte aberta à recepção. ARS (São Paulo), 1(2), 31–43. https://doi.org/10.1590/s1678-53202003000200003
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