O propósito deste artigo é desconsagrar o caráter heróico que a obra de Hobbes assumiu para os estudantes de relações internacionais ao ter sido enquadrada - assim como as de Tucídides, Maquiavel, Rousseau, Hegel etc. - no épico realista. Veremos que a subsunção do filósofo à "tradição realista" é raramente questionada, mesmo pelos críticos das concepções veiculadas por essa tradição. Assim, o nome de Hobbes permanece, em grande medida, associado à analogia entre anarquia internacional e estado de natureza. Em primeiro lugar, o artigo resgata o caráter hipotético do modelo de estado de natureza, dando ênfase especial ao reconhecimento de Hobbes à limitação de seu reducionismo motivacional para a descrição da realidade. Em segundo, partindo do pressuposto de que a dicotomia interno-externo era inexistente na época de Hobbes, explora, a partir de sua obra, o argumento de que a paz internacional estaria diretamente relacionada à resolução do problema da ordem nas sociedades domésticas.The purpose of this article is to deconsecrate the heroic status that international relations students have attached to Hobbes's texts - an attachment that results from their inclusion, together with texts by Thucydides, Machiavelli, Rousseau and Hegel, in the realist epic. We will see that the subsuming of the philosopher under the "realist tradition" is rarely questioned, even by the critics of the conceptions endorsed by it. Therefore, the name of Hobbes remains, in a large extent, associated to the analogy between international anarchy and the state of nature. In the first place, we'll bring to light the hypothetical status of the state of nature model, emphasizing the fact that Hobbes himself recognized the limitation of its motivational reductionism to the description of reality. Secondly, having taken as a premise the fact that the dichotomy inside/outside did not exist in Hobbes's time, we'll explore the argument that international peace would be directly associated to the resolution of the problem of order in domestic societies.
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Leite, I. C. (2005). Argumentos para uma dissociação da filosofia política de Thomas Hobbes da tradição realista. Contexto Internacional, 27(1), 7–50. https://doi.org/10.1590/s0102-85292005000100001
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