RESUMO – OBJETIVO. Uma modalidade de trata-mento que capta muito a atenção da mídia é a cirurgia espiritual, que, entretanto, tem sido pou-co estudada cientificamente. Uma questão que se impõe é sobre a veracidade ou não de tais fenôme-nos, porém pesquisas nesse sentido são escassas. MÉTODO. Apresentamos o relato de uma investi-gação sobre um dos mais famosos cirurgiões espi-rituais do Brasil, o Sr. João Teixeira de Farias. Foram acompanhadas por volta de 30 " cirurgias " , sendo que em seis dos pacientes foram realizados a anamnese, o exame físico e coletados os tecidos extraídos para exames anatomo-patológicos. RESULTADOS. O " cirurgião " verdadeiramente in-cisa a pele ou o epitélio ocular, além de realizar raspados corneanos sem nenhuma técnica anes-tésica ou antisséptica identificável. Apesar disso, apenas um paciente queixou-se de dor moderada quando teve a mama incisada. Os pacientes foram INTRODUÇÃO Há um extenso registro de curas espirituais em todo o mundo desde a mais remota antigüidade 1-3 . Foram encontrados relatos no Egito e Grécia anti-gos, entre os índios 4 , além do fato de que a história cristã é rica em fatos dessa natureza 2 . Apesar de uma origem tão antiga, as curas espirituais persistem ainda em nossos dias quase que completamente ignoradas do ponto de vista científico 5 . Entretanto, geram acentuado interes-se em milhões de pessoas que buscam alívio para seus males, tanto em países desenvolvidos 2,6,7 como em desenvolvimento 8,9 . O raciocínio popular diferencia a medicina oci-dental da cura espiritual, mas considera que ambas são eficazes 7 . Desse modo, geralmente a medicina espiritual é usada como complemento da medicina ocidental 9,10,11 , sendo muitas vezes o último recurso dos pacientes, que, geralmente, não relatam esse uso da medicina alternativa para seus médicos 6,12 . Nos últimos anos tem havido um aumento do inte-resse dos médicos pelo tema 2, e uma busca de " do-mesticar " como conhecimento científico o que já foi tido como anárquico demais para ser " domado " 13 . examinados até três dias depois da cirurgia sem nenhum sinal de infecção, bem como os relatos posteriores dos pacientes não continham infor-mações de infecção. O exame histopatológico evi-denciou que os tecidos extraídos eram compatí-veis com o local de origem e, com exceção de um lipoma de 210 gramas, eram tecidos normais, sem particularidades patológicas. Foi realizada revi-são da literatura e discussão do efeito placebo. CONCLUSÕES. As cirurgias são reais, mas, apesar de não ter sido possível avaliar a eficácia do procedimento, aparentemente não teriam efeito específico na cura dos pacientes. Sem dúvida, nossos achados são mais exploratórios que conclu-sivos. São necessários posteriores estudos para lançar luz sobre esse heterodoxo tratamento.
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Almeida, A. M. de, Almeida, T. M. de, & Gollner, A. M. (2000). Cirurgia espiritual: uma investigação. Revista Da Associação Médica Brasileira, 46(3), 194–200. https://doi.org/10.1590/s0104-42302000000300002
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