Este artigo parte de uma reavaliação da proposta original das correntes da música concreta e da música eletrônica para concluir que o projeto de Schaeffer de uma escuta reduzida que eliminaria as referências a sentidos extrínsecos ao discurso musical foi superado já nos primórdios da música eletroacústica, ainda que isso não tivesse sido sempre claramente postulado, predominando o elogio da abstração sonora. Utilizando paradigmas da hermenêutica da significação musical desenvolvidos pela teoria das tópicas, novos desdobramentos são descritos e que resultam nas teorias dos tropos musicais, dos campos tópicos, dos gêneros expressivos, da narratividade e da intertextualidade, teorias estas que se propõe a utilizar também na música eletroacústica, pelo menos em certas instâncias particulares. O pressuposto fundamental que valida essa hipótese é a utilização de uma poética de contrastes, que ocorre quando a música eletroacústica se vale da substituição da sintaxe harmônica pelo contraste dado pela significação tópica na determinação de uma arquitetura formal. Observa-se, finalmente, que o recurso a esse artifício pode gerar uma interpretação de espaços paradoxais em que não só características espectro-morfológicas dos sons usados, mas também interpretações hermenêuticas dos eventos sonoros podem contribuir para a percepção de uma realidade virtual incompatível com nossa experiência do mundo físico real.
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Souza, R. N. C. (2013). Abstração e representação na música eletroacústica. Revista Vórtex, 1(1), 23–35. https://doi.org/10.33871/23179937.2013.1.1.369
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