fato de se sentirem culpados pela morte da pessoa próxima, ou que sintam vergonha dos julgamentos da sociedade em relação às circunstâncias que en-volveram a morte do ente querido. É importante ressaltar que o modo do enlutado lidar e reagir à morte por suicídio pode variar e de-pende também dos recursos internos do indivíduo e das inter-relações que a pessoa construiu ao longo da vida. Há diversos fatores que ainda podem influen-ciar neste processo indiscutivelmente dinâmico, que passam pela relação estabelecida com a pessoa que morreu, às circunstâncias da morte, os antecedentes históricos da família e da comunidade, até alguns traços de personalidade de quem enfrenta a perda 4. Além disso, a autora faz o leitor pensar no quanto os enlutados sofreram antes mesmo do ato fatal, pois, sabe-se que na maioria das vezes, antes da morte por suicídio, o indivíduo passa por situações do compor-tamento suicida, que envolve, principalmente, ideias e tentativas prévias de suicídio 5 , e portanto, a morte seria o fim de alguns sentimentos vivenciados pelo enlutado e o início de outros, ambos devastadores. No capítulo 4, Karina Fukumitsu explora as prin-cipais dificuldades enfrentadas pelo enlutado por suicídio. Inicia o capítulo apontando o sofrimento relacionado ao tabu e estigma que o suicídio ainda representa na sociedade, e afirma que nesse sentido, o silenciamento gerado pelo tabu é adoecedor. Sobre o silenciamento causado nas famílias e pessoas próximas de alguém que se suicidou, é va-lioso ressaltar que os principais motivos que levam os sobreviventes a não recorrerem aos profissionais de saúde para obter apoio e ajuda especializada, é justamente o medo de falar sobre o suicídio, ou seja, pelo tabu que este fenômeno continua a representar na sociedade, e por isso, muitos deles desenvolvem problemas graves de saúde devido à complexidade dos sentimentos envolvidos neste processo 6. Outro ponto abordado no capítulo 4 é o medo da repetição do suicídio na família. Sobre este tópico, a autora entende que apesar de haver questões psicoló-gicas, psiquiátricas e sociais que são transgeracionais e influenciam em comportamentos autodestrutivos em familiares que perderam alguém por suicídio, o suicídio como desfecho fatal não se repete nos membros da família necessariamente como uma herança genética. Ainda no que concernem as dificuldades en-frentadas pelos enlutados, é abordada a questão da exposição que é causada após um suicídio. Di-ferentemente de outros tipos de morte, neste caso a vida privada das famílias é invadida, seja na cena em que ocorreu o fato, seja na replicação de vídeos e imagens nas mídias sociais. Essa exposição vai além dos domicílios dos enlutados: no caso dos
CITATION STYLE
Dantas, E. S. O. (2021). Fukumitsu KO. Sobreviventes enlutados por suicídio: cuidados e intervenções. São Paulo: Summus; 2019. Ciência & Saúde Coletiva, 26(2), 765–766. https://doi.org/10.1590/1413-81232021262.37472019
Mendeley helps you to discover research relevant for your work.