Resumo A violência é um fenômeno sociocultural que viola direitos e acentua desigualdades sociais. Suas implicações são perceptíveis na vida cotidiana e na saúde da população. Sob o referencial teórico da interseccionalidade e da psicologia sócio-histórica, este artigo discute formas de violência produzidas na intersecção de gênero, raça e classe em uma comunidade periférica e em situação de alta vulnerabilidade localizada na cidade de Cubatão/SP, a partir do relato de quatro lideranças comunitárias. Os dados foram obtidos por meio de três pesquisas realizadas anteriormente e concomitantemente ao contexto da pandemia da covid-19, de junho de 2017 a novembro de 2020, extraídos mediante entrevistas e diários de campo para, depois, serem analisados segundo a Hermenêutica de Profundidade. Os resultados apontam para violências estruturais articuladas a raça, classe e gênero, expressas na inacessibilidade a condições dignas de moradia, alimentação e renda básica. A violência contra mulheres, destacada como resultado, aparece intermediada pelo Estado ou pelo tráfico organizado. Os dados sugerem que as violências são agravadas pela ineficiência da operacionalização das políticas públicas, no que tange à promoção do cuidado à população majoritariamente negra e pobre, indicando que a interseccionalidade é uma ferramenta essencial para a análise e o enfrentamento das desigualdades sociais.Abstract Violence is a socio-cultural phenomenon that violates rights and accentuates social inequalities with noticeable implications in the health and daily life of the population. This article discusses forms of violence produced at the intersection of gender, race and class in a peripheral and highly vulnerable community located in the city of Cubatão, state of São Paulo. The research was guided by the theoretical framework of intersectionality and socio-historical psychology. Data were obtained using three surveys conducted from June, 2017 to November, 2020, partially during COVID-19 pandemic. Interviews and field diaries were conducted, analyzed according to Depth Hermeneutics. The material collected from four community leaders served as the basis for this article. The results point to a structural violence articulated to race, class and gender, expressed in the inaccessibility to decent conditions of housing, food and basic income. The violence against women emphasized as a result appears intermediated by the State or the organized drug trafficking. The data suggest that these forms of violence are aggravated by the inefficiency of the public policy operationalization in promoting care for the mostly black and poor population, indicating that intersectionality can be an essential tool for analysis and confrontation of social inequalities.
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Corrêa, M. D., Moura, L. de, Almeida, L. P. de, & Zirbel, I. (2021). As vivências interseccionais da violência em um território vulnerável e periférico. Saúde e Sociedade, 30(2). https://doi.org/10.1590/s0104-12902021210001
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