Publicar os resultados de pesquisas e processos de intervenção profissional é um compro-misso que cientistas e profissionais são compelidos a cumprir, no sentido de colaborar no processo de construção e aperfeiçoamento do conhecimento científico sobre a realidade, tornando as informações produzidas acessíveis e úteis à comunidade. Ao publicar, os periódicos científicos cumprem duas diretrizes básicas: a) divulgar desco-bertas científicas, processos de conhecer e intervir socialmente, formas de abordar e interpretar fenômenos e fatos, perspectivas construção, mudanças ou aperfeiçoamento dos conheci-mentos produzidos, assim como processos de transferência e desenvolvimento de habilidades e competências humanas; b) estimular a reflexão e a crítica em seus leitores e o uso das infor-mações divulgadas por meio de processos de ensino-aprendizagem no âmbito da formação e atualização profissional. Essas diretrizes apontam para a necessidade de alcançar reconheci-mento do periódico e das publicações dentro da comunidade científica, e fora dela, acerca dos produtos e evidências científicas, bem como dos recursos teóricos-metodológicos possíveis de serem utilizados na atuação profissional de forma eficiente, eficaz e relevante às necessidades das pessoas no contexto social onde vivem. O processo de formação profissional, realizado essencialmente nas universidades, é lastreado pela premissa de que cabe ao ensino superior não somente transmitir conhecimentos acumulados e torná-los acessíveis, mas participar do processo de construção do conhecimento científico, por meio do desenvolvimento e aperfeiçoamento das habilidades de conhecer (o que se denomina, em geral, de processo de reflexão e crítica) e intervir socialmente (a atuação profissional qualificada e especializada). No âmbito da formação profissional em Psicologia, cabe refletir, sobre as mudanças decor-rentes da implementação das Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Psicologia (Brasil, 2001) e seus efeitos na construção e aperfeiçoamento de competências e habilidades para os psicólogos conhecer e intervir socialmente. As críticas à atuação profissional dos psicó-logos têm se acentuado à medida que se verificam lacunas na apreensão do conhecimento psicológico e na capacidade do psicólogo em operar, nos diferentes níveis da intervenção, com os recursos teóricos e metodológicos mais apropriados às exigências do mundo do trabalho. Acentuam-se as críticas quando se verificam as tipicidades das infrações ético-profissionais, majoritariamente centradas na baixa capacitação teórica, no uso pouco apurado dos proce-dimentos de investigação, avaliação e análise de processos psicológicos, nas restritas habi-lidades para buscar evidências científicas e produzir informações relevantes e atualizadas às necessidades da população e das instituições sociais. Esses aspectos críticos certamente proble-matizam o processo de formação profissional do psicólogo, especialmente na capacidade de ensinar, aprender e integrar conhecimento científico e atuação profissional.
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Cruz, R. M. (2016). Formação científica e profissional em Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(1), 3–5. https://doi.org/10.1590/1982-3703003512016
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