Na noite de 25 de novembro de 1967 uma catástrofe de chuva e lama abate-se inesperadamente sobre Lisboa. Num Estado sem capacidade de reação, nem dispositivos censórios capazes de conter a inevitável torrente de informação sobre um acontecimento desta envergadura, a tragédia revela-se brutal e por demais visível, com números esmagadores, que a Censura tenta, mas não consegue controlar totalmente. Antes das manchetes da manhã seguinte, é através do Rádio Clube Português, numa emissão contínua que contrasta com o silêncio da estação oficial do Estado Novo, que se ouvem as primeiras notícias sobre as inundações. Este artigo aborda a catástrofe de 1967 enquanto acontecimento mediático, recorrendo à análise qualitativa dos sons de arquivo do RCP e a entrevistas a antigos jornalistas da estação. O objeto empírico é enquadrado historicamente e estudado, no âmbito dos estudos dos média, à luz das teorias do acontecimento de autores como Dayan e Katz, Kepplinger e Habermeier, Nora ou Quéré.
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Henriques, C. (2019). As inundações de Lisboa de 1967 como acontecimento mediático no Rádio Clube Português. Media & Jornalismo, 19(35), 165–181. https://doi.org/10.14195/2183-5462_35_11
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