Resumo: Este ensaio pretende dar uma contribuição ao entendimento do esporte e, particularmente, do futebol no Brasil a partir de uma perspectiva estética. Desta forma são apresentadas e discutidas três categorias ana-líticas: o ritual disjuntivo, o "pertencimento" clubístico e a noção de jogo absorvente. Palavras-chave: cultura; futebol; estética. gosto pelo futebol resistiu à crítica de esquerda, acadêmica ou não, à apropriação pela direita, especialmente pelas ditaduras, e até se constituiu, Atualmente, o esforço de quem pesquisa e escreve so-bre os esportes está dirigido para a compreensão e supe-ração de certas perspectivas analíticas já esboçadas sobre o tema. Por isso mesmo, o que foi dito contra o esporte pelos intelectuais de esquerda, fundamentados nas várias correntes marxistas-que o esporte era uma ferramenta ideológica da propaganda anti-democrática, que promo-via a coesão interclasses e amenizava o enfrentamento entre patrões e empregados, que tinha paralelos com o nacio-nalismo, etc. 3-, não pode ser tomado como algo apenas despropositado. O que se tenta fazer na atualidade é com-preender a crítica ao esporte, por vezes transformada em militância anti-esportiva, como uma leitura possível da realidade, diversa, por exemplo, daquela feita por grande parte dos próprios operários. 4 Observa-se, então, que as conjecturas anti-esportivas dos intelectuais de esquerda eram uma reprodução muita próxima dos discursos dos sindicalistas da primeira metade do século XX. O compo-nente político sobrepunha-se, em ambos os casos, ao com-ponente heurístico. Na verdade, não se pretendia com-preender o esporte e nem mesmo as razões pelas quais as classes trabalhadoras lhe tinham tanto apreço, mas denun-ciar o seu uso pelo Estado e pela burguesia (Oliven e Damo, 2001). A perspectiva funcionalista também tem recebido crí-ticas. Circunscrevendo o futebol ao esporte e o esporte ao campo do lazer e do entretenimento, os funcionalistas ten-de 1970 para cá, em uma ocupação profissional e em um segmento em expansão da economia de mercado. Na América Latina, onde o futebol foi usado pela propaganda dos regimes antidemocráticos, justificando, em grande parte, o "denuncismo" esquerdista, o interesse por ele não diminuiu com o descrédito dos ditadores. Segue sendo a "religião leiga da classe operária", como afirmou Hobsbawm há tempos. Isso vale inclusive para a Europa, "berço da civilização esportiva", de onde surgiram também os hooligans, em meados dos anos 70. Na África e na Ásia, os esportes modernos 1 eram pouco difundidos até mea-dos do século XX. Houve, de lá para cá, um despertar generalizado, mais intenso, em que os conflitos étnicos são menores ou há mais abertura para o ocidente, respec-tivamente. 2 Diante desse cenário era preciso que as ciências huma-nas repensassem suas convicções, uma vez que, até bem pouco tempo, desdenhara o esporte, considerando-o um "tema menor" (Guedes, 2000; Leite Lopes, 1995). Nas duas últimas décadas-e, na América Latina, nos anos 90-as ciências humanas foram superando os preconceitos e tratando o esporte, o lazer e o tempo livre com a mesma seriedade com que trata os temas clássicos (Alabarces, 2000).
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DAMO, A. S. (2001). Futebol e estética. São Paulo Em Perspectiva, 15(3), 82–91. https://doi.org/10.1590/s0102-88392001000300011
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