O artigo revela que, entre meados do século XVII e meados do XVIII, no meio eclesiástico das ordens religiosas (jesuítas, franciscanos, agostinhos, cistercienses, carmelitas etc.) e do episcopado, houve a adoção progressiva do símbolo imperial, a águia bicéfala, atributo do Império Cristão, do Sacro-Império Romano Germânico. Entretanto, em campo religioso, essa águia imperial do tempo do barroco aparece despojada de insígnias políticas (espada, cetro, globo), adornando altares, ostensórios, arcos-cruzeiros, fachadas de templos, portas, cúpulas, paredes, púlpitos, lavatórios sacros, esculturas e pinturas da Virgem e do Menino, vestes litúrgicas, etc.; relacionada, portanto, ao culto e aos dogmas da fé católica - nas obras artísticas, muitas vezes, a associação entre a dupla águia e a unidade carneespírito, humano-divino, princípio axial da fé católica, representada pela Virgem-Mãe e o Cristo é indicada de forma direta. A pesquisa tem localizado e identificado numerosos remanescentes da dupla águia em campo religioso em Portugal e Espanha e em suas antigas conquistas e domínios da América, Ásia e África, e também na Itália, sendo que jamais a historiografia relativa ao doloroso parto da Era Moderna no Ocidente se deu conta de tal fenômeno. Simbolizando o poder absoluto, universal, essas obras de teor sacro, tal como o discurso eclesiástico da época, põem à mostra a movimentação ocorrida, no plano religioso, com vistas à afirmação do poder não só espiritual como terreno do Cristo e seu corpo místico, a Igreja, embalada pela ideia de restabelecer a unidade cristã, a "República Cristã", desmantelada pelos conflitos de poder e de fé, bem como da instauração uma Monarquia Universal Apostólica, com ação política e sacerdotal estendida a toda a Humanidade: o Império dos Últimos Dias, Império de Cristo no Mundo Todo, Quinto Império.The article reveals that between the mid-17th century and the mid-18th century, in the ecclesiastical world of the religious orders (Jesuits, franciscans, Carmelites, Cistercians, Augustinian, etc.) and the episcopate, there was the progressive adoption of the imperial symbol, the double-headed eagle, attribute of the Christian Empire, the germanic Holy Roman Empire emblem. However, in the religious field, this imperial eagle of the baroque time appears without the political insignia (sword, scepter and the imperial orb), adorning altars, monstrances, trumphal archs, facades of temples, doors, walls, domes, pulpits, sacred washbasins, sculptures and paintings of the Virgin and Child, liturgical robes, etc.; therefore related to the cult and the dogmas of the Catholic faith - in artistic works, the association between the double eagle and the flesh-spirit or human-divine unity, axial principle of the Catholic faith, represented by Virgin-Mother and Christ, is often indicated directly. The research has located and identified numerous remnants of the double eagle emblem in religious field in Portugal and Spain and in their conquests and dominions in America, Asia and Africa, and also in Italy, and the historiography on painful birth of the modern era in the West has never realized this phenomenon. Symbolizing absolute power, universal power, these works with sacred significance, as the ecclesiastical discourse of the time, demonstrate movement occurred in religious plane. With the aim to assert not only spiritual but also temporal power of Christ and his mystical body, the Church was impelled by the idea of restoring the "Republica Christiana" or Christendon - disrupted by conflicts of power and faith - and of introducing a Universal Apostolic Monarchy extended to all mankind: the Empire of the Last Days, the Empire of Christ in the world, the fifth Empire.
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Trindade, J. B. (2010). O império dos mil anos e a arte do “tempo barroco”: a águia bicéfala como emblema da Cristandade. Anais Do Museu Paulista: História e Cultura Material, 18(2), 11–91. https://doi.org/10.1590/s0101-47142010000200002
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