Resumo Este artigo examina as considerações de Nietzsche acerca das fontes sociais e históricas do eu como um contra-argumento à concepção liberal de indivíduo. Defendo que Nietzsche oferece não apenas uma crítica contundente à concepção associal e previamente individuada de pessoa, à qual se conecta a noção liberal de liberdade (compreendida como o direito individual de escolha de sua própria concepção de bem), como ainda um contra-conceito alternativo de pessoa e de soberania. Seus argumentos visam mostrar, em sua dimensão crítica, que o indivíduo ou pessoa é inseparável de seus objetivos ou valores, que são socialmente constituídos, e que nossa capacidade como indivíduos, especialmente para a agência soberana, é o produto de uma longa história e pré-história social. Em sua dimensão construtiva, encontramos em Nietzsche a contra alegação de que a manutenção e o cultivo de nossas capacidades (para reflexão e agência soberanas) são dependentes de relações de um antagonismo ponderado entre nós mesmos enquanto indivíduos, ou antes: como dividua. Esses argumentos serão desenvolvidos no que se segue em consonância com quatro principais linhas de pensamento: sobre as origens sociais e o caráter da (auto) consciência (§I); sobre a (pré) história e a constituição social de nossa capacidade como indivíduos soberanos [sovereign] (§II); sobre as origens sociais do fenômeno moral (como internalização de normas comuns) (§III); e sobre a destruição fisiológica do sujeito moral substancial, seguida da reconstrução fisiológica (§IV).Abstract This essay examines Nietzsche's thought on the social and historical sources of the self as a counter-argument against the liberal concept of the individual. Nietzsche, it is argued, offers a powerful critique of the asocial, antecedently individuated concept of personhood, to which the liberal notion of freedom (the right to choose one's concept of the good) is attached, but also an alternative counter-concept of personhood and sovereignty. On the critical side are arguments to the effect that the individual or person is inseparable from its ends or values, which in turn are socially constituted, and that our capacities as individuals, especially for sovereign agency, are the product of a long social history and pre-history. On the positive side is the constructive counter-claim that the maintenance and cultivation of our capacities for productive, autonomous agency is dependent on relations of measured antagonism both between and within us as individuals, or rather: as dividua. These arguments are reconstructed along four main lines of thought: on the social origins and character of (self-)consciousness (§ I); on the (pre-)history and social constitution of our capacities as sovereign individuals (§ II); on the social origins of moral phenomena, understood as internalisations of communal norms (§ III); and Nietzsche's physiological destruction of the substantial moral subject, coupled with the physiological reconstruction of the subject as dividuum (§ IV).
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Siemens, H. (2016). Nietzsche e a sociofisiologia do eu. Cadernos Nietzsche, 37(1), 185–218. https://doi.org/10.1590/2316-82422016v37n1hs
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