No início do século XVIII a escravidão chegou ao seu apogeu em Portugal, especialmente em Lisboa. Até 1761, um milhar de cativos africanos, ou mais talvez, por ano, desembarca no cais da capital. Vêm diretamente da África ou do Brasil onde residiram alguns anos. Começa para eles um longo processo de adaptação, de reconstrução da identidade e do imaginário. Por detrás da fachada das sete confrarias negras, entre as quais duas eram de nações, que apresenta a versão oficial e enquadrada no catolicismo barroco e procura produzir e apresentar negros à alma branca, se esconde uma outra realidade: a persistência das crenças africanas tradicionais, articuladas ou misturadas às tradições populares portuguesas, às quais, respondendo à sua procura de poderes mágicos diferenciais e cumulativos, as populações brancas mostram-se sensíveis. Os processos da Inquisição revelam assim que feiticeiros, mágicos, mandingueiros e curandeiros negros inserem-se, cada um à sua maneira, na cadeia complexa dos agentes legítimos e ilegítimos do sagrado.At the beginning of century XVIII, the slavery arrived at its apogee in the Portuguese Metropolis, especially in Lisbon. Until 1761, a thousand captive Africans, or more perhaps, per year, disembarks in the wharfs of the capital. They come directly of Africa or Brazil where some years had inhabited. A long process of adaptation, reconstruction of the identity and of the imaginary one starts for them. Behind frontage of seven black brotherhoods, between which two were of nations, which presents the official and framed version of baroque Catholicism and seek to produce and to present blacks with a white soul, appears another reality: the persistence of the traditional African beliefs, articulated or mixed to the Portuguese popular traditions, to which, answering to its search of magical cumulative and differentials powers, the white populations reveal sensible. Thus, the Inquisition trials disclose that, mandingueiros, soothsayers, wizards, and black magical folk healers insert themselves, each one with its manner, in the complex chain of legitimated and illegitimated agents of the sacred.
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Lahon, D. (2004). Inquisição, pacto com o demônio e “magia” africana em Lisboa no século XVIII. Topoi (Rio de Janeiro), 5(8), 9–70. https://doi.org/10.1590/2237-101x005008001
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