Neste artigo, discutimos como a definição transnacional da epidemia pressiona o formato das políticas adotadas internamente para lidar com os seus efeitos, destacando como fatores socioeconômicos - como raça e classe do maior grupo prejudicado pelo mosquito – têm impacto na forma como as políticas são propostas. Debatemos quatro questões: a formação de um discurso global em torno da epidemia do vírus da Zika, sobretudo os enquadramentos e discursos apresentados pela Organização Mundial da Saúde; os fatores socioeconômicos, o racismo ambiental que molda os grupos populacionais prejudicados pela epidemia; as políticas propostas durante a epidemia e voltadas para as mães e crianças infectadas pelo Zika durante a gravidez; e as ações realizadas por organizações dos movimentos feministas em Pernambuco. Quase dois anos após o início do surto, algumas políticas foram anunciadas, mas muito pouco foi feito para transformá-los em direitos para as mulheres e crianças. De mais evidente nesse processo de atribuição preferencial de atendimento às famílias de bebês com microcefalia é que o apelo midiático da epidemia, juntamente com a mobilização internacional em torno dela, o que pode gerar efeitos negativos em futuro próximo, dado que a tendência é de que com a redução do número de casos e a familiarização com a doença, a comoção social em torno deste vírus deixe de existir.
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Pedreira Carvalho, L. (2017). Vírus Zika e direitos reprodutivos: entre as políticas transnacionais, as nacionais e as ações locais. Cadernos de Gênero e Diversidade, 3(2). https://doi.org/10.9771/cgd.v3i2.22030
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