Exporei neste texto parte de meu seminário apresentado na USP em março de 2004. Agradeço ao Professor Gilbertto Prado que me convidou, ajudou e traduziu durante esse seminário, do qual guardo emotivas lembranças, tão grandes foram a atenção e a participação de todos os membros. O duplo problema do qual tratarei será: O que é a estética? E, em conseqüência, qual método devemos utilizar para colocá-la em ação em uma pesquisa? Assim, primeiramente, devo explicar minha concepção de estética, na medida em que a metodologia é uma conseqüência desta. Podemos pensar que o método da estética é intrinsecamente constituinte da própria estética; a separação entre a essência e o método da estética é uma separação por razões de exposição, não de natureza: não há uma estética de um lado e, de outro, seu método; há uma disciplina que existe com e por seu método; o professor-pesquisador deve sabê-lo, experimentá-lo e colocá-lo em ação. 1. A ESTÉTICA 1.1. Três aproximações de uma obra de arte A aproximação estética de um objeto, tal como a concebo-seja de uma ou várias obras, de uma ou várias artes-deve fundar-se, para ser rigorosa e per-tinente, inicialmente, em uma aproximação sensível desse objeto e, posterior-mente, sobre sua aproximação teorética 1 ; explicarei esta proposição que trata, ao mesmo tempo, do fundamento e do método da estética. Minha concepção de estética, que podemos reencontrar enunciada e em ação em minha tese e livros-e, particularmente, na Esthétique de la photographie-apóia-se em uma reflexão induzida pela pluralidade e pela diversidade de experiências que tive com a fotografia: as experiências sensível, poética, criadora, teorética, filosófi-ca etc. da fotografia alimentaram e fundaram minha experiência estética. Se falo aproximação de uma obra de arte é para insistir sobre o fato de a obra ou a arte não serem jamais atingidas por uma aproximação, seja ela qual for, restando, portanto, em uma obra e em uma arte, uma parte não nomeável e intraduzível que resiste à análise, a qual garante a re-visão e a re-leitura da obra e da arte. Nós desenvolvemos esta observação em Proximité, em Images des-dires, em Communications, littératures et signes e na Esthétique de la pho-tographie. La perte et le reste. A aproximação de uma obra de arte se parece-sob este ponto de vista-àquela da filosofia, na medida em que esta última é amor, mas não possessão, da sabedoria; do contrário ela seria dogmática e, por isso mesmo, antifilosófica; portanto, uma aproximação que pretendesse possuir a obra de arte e dar conta totalmente dela seria dogmática e, conseqüente-mente, deveria ser rejeitada. Essa pretensão à possessão e à explicação total é uma tentação à qual o pesquisador deve resistir na medida em que, de pesquisador crítico, transformaria-se em ideólogo não crítico, em suma, sem grande interesse para a pesquisa científica, correndo o risco de tornar-se, ele François Soulages
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Soulages, F. (2004). Estética e método. ARS (São Paulo), 2(4), 19–41. https://doi.org/10.1590/s1678-53202004000400003
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