Exclusivamente a partir da equivalência radiográfica do padrão e intensidade de reabsorção dentária em tratamento ortodôntico de 103 irmãos, Harris, Kineret e Tolley12 tentaram impingir um caráter hereditário a este fenômeno sem considerar a morfologia dentária e maxilar, nem tampouco outros fatores envolvidos na etiopatogenia das reabsorções. No trabalho fica claro que entre os objetivos principais dos autores estava atribuir à hereditariedade a ocorrência de reabsorções dentárias durante o tratamento ortodôntico para aliviar em parte as responsabilidades profissionais perante os pacientes e a sociedade. Mas nos parece mais lógico que o profissional devesse habilitar-se para fazer a previsibilidade das reabsorções dentárias com base em seus planejamentos, considerando a morfologia radicular, o tipo de ápice dentário, a proporção coroa-raiz e a morfologia da crista óssea alveolar, bem como evitando escolher, sempre que possível, os procedimentos que mais usualmente estão associados à reabsorção radicular. Se o paciente apresentar-se com morfologias desfavoráveis e ainda assim necessitar de procedimentos associados a um maior risco de reabsorção em seu tratamento, que o mesmo seja informado e conscientizado que as reabsorções dentárias apicais serão um custo biológico para a recuperação de sua estética e função. Considerando: 1) a grande limitação proporcionada pelo diagnóstico de reabsorções apicais em radiografias panorâmicas e telerradiografias em norma lateral (cefalométricas); 2) a ausência de análise da morfologia dentária e da crista óssea alveolar; e 3) principalmente a falta de um grupo controle para comparar se os resultados seriam equivalentes, ou não, em uma população semelhante, sem qualquer parentesco, mas com as mesmas características dentomaxilares; pode-se afirmar que as conclusões do trabalho estão severamente comprometidas em sua credibilidade científica. Tanto a abordagem empregada na discussão quanto as conclusões obtidas pelos autores, sobre correlação entre genótipo, fenótipo e reabsorção dentária, parecem despropositadas, pois não houve estudos envolvendo células, nem tampouco uma metodologia de identificação de genes ou aplicação de qualquer técnica cujos resultados permitissem inferências desta natureza.Harris, Kineret, Tolley12 tried to implicate heritability to root resorption exclusively though radiographic equivalence between the pattern of resorption intensity after orthodontic treatment in 103 siblings. Neither dental nor facial morphology or any other etiopathogenic factor of root resorption was considered, whatsoever.It is clear in this study that the authors´ main goal was to attribute root resorption during orthodontic treatment to heritability in order to lighten the professional’s share of responsibility before patients and society. It seems more logic that the professional should try to predict root resorption when considering on treatment plan the root and alveolar crest morphology, the type of apex, crown-root proportion, and avoiding procedures known to cause more resorption. If a patient presents unfavorable morphology and still needs procedures associated with a higher risk of resorption, than he or she must be warned and informed that apical root resorption will be a biological cost to regain estetics and function. Considering on this paper: (1) the limitations to evaluate apical resorption in panoramic and cephalometric radiographs; (2) the absence of dental and alveolar crest morphology analysis; and (3) the lack of a control group in order to compare if the results would be equivalent in a similar population with no family ties but with same maxilofacial conditions; one can affirm that the scientific credibility of the conclusions are severely damaged. The conclusions drawn by the authors about genotype and phenotype concerning root resorption seem unfounded, since there was no cell analysis or gene identification method to permit such inferences.
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Consolaro, A., & Martins-Ortiz, M. F. (2004). Em busca de uma causa à parte da Ortodontia: hereditariedade e reabsorção apical em pacientes tratados ortodonticamente. Uma análise crítica do trabalho de Harris, Kineret e Tolley. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, 9(2), 123–135. https://doi.org/10.1590/s1415-54192004000200013
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