Clastres promove uma “dessubstancialização” do Estado, que não é “o Eliseu, a Casa Branca, o Kremlin”, mas um “acionamento efetivo da relação de poder”. Não há por que acreditar, então, que ele tenha, num pudor durkheimiano, reificado a sociedade. Ainda que não recorra ao con- ceito, parece-nos que existe já socialidade em Clastres: a socialidade contra o Estado, portanto. Ao explorar, nas três partes deste estudo, a maneira como Clastres encara a “sociedade”, o “Estado” e o “contra”, acreditamos que, com o auxílio de sua etnografia, encontramos indicações de como enfrentar al- guns dos impasses da antropologia; como o de abandonar o individualismo metodológico sem cair num holismo transcendental e vice-versa; o de cons- truir modelos de intencionalidade sem sujeitos; o de pensar a relação social sem, por esta démarche, implicar necessariamente a existência da “socieda- de”; e, finalmente, o de mostrar como a “objetividade” da socialidade pode operar por meio da “subjetividade” das pessoas-em-interação.
CITATION STYLE
Barbosa, G. B. (2004). A Socialidade contra o Estado: a antropologia de Pierre Clastres. Revista de Antropologia, 47(2), 529–576. https://doi.org/10.1590/s0034-77012004000200006
Mendeley helps you to discover research relevant for your work.