Sobre o conceito de “afinidade eletiva” em Max Weber, Michael Löwy

  • Oliveira L
  • Ferreira M
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É na alquimia medieval que se começa a utilizar o termo afinidade para explicar a atração e a fusão dos copos. Segundo Alberto Magno, se o enxofre se une aos metais, é em decorrência da afinidade que ele possui com esses corpos: propter affinitatem naturae metalla adurit. É possível encontrar essa temática nos alquimistas, no decurso dos séculos seguintes. Por exemplo, em seu livro Elementa Chimiae (1724), Hermanus Boerhave explica que particulae solventes et salutae se affinitate sue naturae colligunt in corpora homogênea. A afinidade, assim, é a força em virtude da qual duas substâncias diversas "se procuram, unem-se e se encontram" em um tipo de casamento, de noce chimique, procedendo muito mais por amor do que por ódio, magis ex amoré quam ex odio 2. O termo attractionis electivae aparece pela primeira vez na obra do químico sueco Torbern Olof Bergman. Seu livro, De attractionibus electivis (Uppsala, 1775), foi traduzido para o francês com o título Traité des affinités chimiques ou attractions électives (1788). Na tradução alemã-Frankfurt, Verlag Tabor, 1782-1790-, a fórmula "atração eletiva" se torna, enfim, Wahlverwandtschaft, ou seja, afinidade eletiva. É provavelmente dessa versão alemã de Bergman que Goethe extraiu o título de seu romance Die Wahlverwandtschaften (1809), em que ele trata da questão de uma obra de química estudada por um dos personagens "há cerca de uma dezena de anos". O termo, aqui, torna-se uma metáfora para designar o movimento passional pelo qual um homem e uma mulher são atraídos um pelo outro-ainda que isso signifique a separação de seus companheiros anteriores-, a partir da afinidade íntima entre suas almas. Tal transposição, feita por Goethe, do conceito químico para o terreno social da espiritualidade e do amor foi, em si mesma, ainda mais fácil, especialmente porque em diversos alquimistas, como Boerhave, o termo já estava densamente carregado de metáforas sentimentais e eróticas. Para Goethe, há uma afinidade quando dois seres ou elementos "procuram um ao outro, atraem-se, apoderam-se um do outro e, em seguida, em meio a essa união íntima, ressurgem de forma renovada e imprevista" 3. A semelhança com a fórmula de Boerhave-dois elementos que "se procuram, unem-se e se encontram"-é impressionante, o que sugere o fato de Goethe também ter conhecido a obra do alquimista holandês e até mesmo se inspirado nela.

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Oliveira, L. A. de, & Ferreira, M. T. (2010). Sobre o conceito de “afinidade eletiva” em Max Weber, Michael Löwy. Plural (São Paulo. Online), 17(2), 129. https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2010.74543

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