Resumo A discussão sobre relações raciais, no Brasil e em outras margens do Atlântico, tende a privilegiar alguns signos exteriorizados, discursos e traços demarcadores da diferença. Porém, a condição de sujeitos reflexivos, capazes de analisar não apenas suas experiências, mas também de pensar múltiplas relações e alteridades, costuma ser negada a pessoas e grupos negros de diversas formas, mesmo na bibliografia especializada. Proponho neste artigo, na contramão dessas duas tendências, uma reflexão de cunho epistemológico sobre as noções de silêncio e segredo, centrais para o candomblé e para outras comunidades afrorreligiosas, a partir da trajetória do músico baiano Dorival Caymmi. Com isso, pretendo evidenciar certas dimensões não ditas, íntimas, dos processos de racialização brasileiros, que incluem o caráter estratégico do silêncio e das alianças solidárias, micropolíticas. Espero salientar, dessa forma, as possibilidades de agência e sobretudo a importância conceitual das ideias e histórias atualizadas pela vivência dos candomblecistas, suas entidades e seus terreiros.Abstract Race relations debates in Brazil, as well as other Atlantic shores, tend to pay attention to explicit signs of differentiation, discourses or boundaries. Nevertheless, the condition of reflexive subjects - able to analyze not only their own experiences, but also to comprehend multiple relations and alterities - is often denied to black people or communities, even at specialized forums. Against those trends, I propose at this article an epistemological reflection about silence and secret. Both notions, which play a central role at candomblé (an African Brazilian religion), will be addressed here through the trajectory of an important Brazilian musician, Dorival Caymmi. I intend to put in evidence, with those considerations, certain non-verbal and intimate dimensions of Brazilian racializing processes which are characterized, additionally, by the strategic use of silence, solidarity and micro-political alliances. By doing so, I seek to underline the agency and conceptual relevance of the ideas hold by candomblé followers, their entities and their temples.
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Queiroz, V. (2022). Ouve, meu filho, o silêncio: a experiência racial de Dorival Caymmi e a epistemologia silenciosa dos candomblés. Horizontes Antropológicos, 28(63), 275–306. https://doi.org/10.1590/s0104-71832022000200010
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