Em 10 de julho de 1898, o líder reformista Kang Youwei 康有為 (1858–1927) enviou um memorial ao trono propondo que todas as academias e templos na China, com exceção daqueles incluídos nos registros de sacrifícios do estado (sidian 祀典), fossem transformados em escolas. O imperador Guangxu ficou tão satisfeito com a proposta que promulgou um edito (shangyu 上諭) no mesmo dia assumindo as palavras de Kang. Em três ocasiões nas semanas seguintes, o editorial do famoso diário de Xangai, o Shenbao 申報 discutiu o edital não como uma lei que visava facilitar a criação ex nihilo de uma rede nacional de escolas públicas, mas como a declaração de uma reforma religiosa, isto é, uma mudança na política religiosa que livraria a China dos cultos nos templos e de seus especialistas, budistas, taoístas e médiuns espirituais. De fato, foi assim, embora tanto a historiografia chinesa quanto a ocidental geralmente tenham negligenciado a apreciação da importância do elemento religioso nas chamadas reformas Wuxu (11 de junho a 21 de setembro de 1898) e nas políticas modernistas posteriores. Essa importância, como veremos, pode ser avaliada tanto nos escritos de alguns dos líderes reformistas quanto entre as populações preocupadas com as suas consequências práticas.
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Goossaert, V. (2021). 1898. Locus: Revista de História, 27(1), 23–60. https://doi.org/10.34019/2594-8296.2021.v27.33104
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