Alimentação dos peixes em um riacho do Parque Estadual Morro do Diabo, bacia do Alto Rio Paraná, sudeste do Brasil

  • Casatti L
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Abstract

Neste estudo foi investigada a estrutura trófica de uma comunidade de peixes de um riacho de primeira ordem na bacia do Alto Rio Paraná, empregando métodos habituais de análise da dieta combinados com observações naturalísticas. Três trechos do Córrego São Carlos foram estudados. Foram coletadas 18 espécies de peixes, pertencentes a cinco ordens e dez famílias. A análise de 299 estômagos mostrou que 70% dos itens alimentares são autóctones, 24% alóctones e 6% material de origem não identificada. Dezoito pares de espécies (33%) apresentaram sobreposição alimentar significativa, porém esta sobreposição não necessariamente indica competição em razão da segregação espacial e temporal observada na captura do alimento. Três guildas alimentares foram determinadas. Os invertívoros incluíram Astyanax altiparanae, Moenkhausia sanctaefilomenae e Oligosarcus pintoi, que apresentaram predominância de itens alóctones, e Rhamdia quelen, Trichomycterus sp., Corydoras aeneus e Crenicichla britskii, com predominância de itens autóctones. Neste grupo A. altiparanae e M. sanctaefilomenae são catadores de itens na coluna d´água, R. quelen é um predador oportunista bentônico, Trichomycterus sp. e C. aeneus são especuladores de substrato, O. pintoi e C. britskii são predadores de emboscada. Os onívoros com tendência à herbivoria foram representados por Phalloceros caudimaculatus, que se alimentou principalmente de algas. Os perifitívoros incluíram Hisonotus sp., Hypostomus nigromaculatus e Hypostomus ancistroides, pastadores com dieta composta principalmente por diatomáceas, clorofíceas e matéria orgânica. Os resultados aqui encontrados indicam que a comunidade de peixes no Córrego São Carlos se mostra estruturada em nível espacial, temporal e trófico, apresentando uso partilhado dos recursos alimentares disponíveis. O acréscimo de espécies em cada categoria trófica ao longo do riacho possivelmente é um reflexo da crescente heterogeneidade longitudinal de micro-hábitats na área, disponibilizando sítios de alimentação adicionais.The trophic structure of a fish assemblage in a first order stream in the upper Paraná River basin was investigated using standard methods of diet analysis and underwater observations utilizing snorkeling. Three stretches of the Córrego São Carlos were studied. Eighteen fish species belonging to five orders and ten families were captured. The stomach analysis of 299 fishes revealed that 70% of the food items are autochthonous, 24% allochthonous, and 6% material of unidentifiable origin. Eighteen pairs of species (33%) showed significant feeding overlap, though this overlap does not necessarily indicate competition given the temporal and spatial segregation during foraging. Three feeding guilds were found. The invertivores included Astyanax altiparanae, Moenkhausia sanctaefilomenae, and Oligosarcus pintoi, whose diet demonstrated a predominance of allochthonous items, and Rhamdia quelen, Trichomycterus sp., Corydoras aeneus, and Crenicichla britskii, that had a predominance of autochthonous items in their diets. In this group, A. altiparanae and M. sanctaefilomenae are drift feeders, R. quelen is a benthic opportunistic predator, Trichomycterus sp. and C. aeneus are grubbers, and O. pintoi and C. britskii are ambush predators. The omnivore with a tendency to herbivory is represented by Phalloceros caudimaculatus, which feeds mainly on algae. The periphitivores included Hisonotus sp., Hypostomus nigromaculatus, and H. ancistroides that are grazers with a diet composed mostly of diatoms, clorophyts, and organic matter. The results indicated that the fish assemblage in the Córrego São Carlos is structured at spatial, temporal, and trophic levels, and shows partitioning of the food resources. The addition of the fish species in each trophic guild along the stream is possibly due to the longitudinal increase of microhabitats that makes available more feeding sites.

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Casatti, L. (2002). Alimentação dos peixes em um riacho do Parque Estadual Morro do Diabo, bacia do Alto Rio Paraná, sudeste do Brasil. Biota Neotropica, 2(2), 1–14. https://doi.org/10.1590/s1676-06032002000200012

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