Busco discutir neste trabalho o processo de tratamento espiritual e cura oferecidos por um pequeno centro espírita de São Carlos, interior de São Paulo. A partir de um caso etnográfico, analiso as técnicas e discursos empregados pelos espíritas em relação ao conhecimento médico convencional. Discuto também como o tratamento espiritual não busca se opor à ciência médica secular, mas se constrói enquanto um desenvolvimento da, assim apreendida, limitação do conhecimento humano. A imbricação entre o contexto espírita e o conjunto de técnicas e procedimentos advindos da ciência médica produz uma situação em que o processo de cura é encarado pelos pacientes de forma diversa da noção de “milagre”, presente em contextos católicos e pentecostais. O procedimento da cura espiritual implica num trânsito entre espiritualidade e materialidade, diferentemente da manifestação transcendental do sagrado que caracteriza o milagre. O trabalho visa, portanto, fornecer uma contribuição etnográfica aos debates sobre a interface entre saúde e espiritualidade através de um enfoque nas formas pelas quais esse universo de significados e práticas se materializa na experiência dos frequentadores do centro espírita.
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Santos Barbosa, A. W. (2019). “Aqui a gente não faz milagre”: Particularidades do tratamento espiritual de doenças no espiritismo kardecista. Campos - Revista de Antropologia, 20(1). https://doi.org/10.5380/cra.v1i1.65027
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