O presente artigo tem o objetivo de problematizar a tradicional vitimização de mulheres que se envolvem com atividades criminosas, chamando a atenção para o protagonismo e a iniciativa pessoal como motivadores para trajetórias criminosas femininas. A partir da análise discursiva de entrevistas qualitativas com cinco mulheres com uma história passada de envolvimento na rede do tráfico de drogas no Rio de Janeiro, a intenção é captar os dilemas que caracterizam a forma como estas mulheres justificam a sua inserção numa atividade criminosa primordialmente masculina. Ao nível micro, a análise tratará da eficácia retórica dos diversos posicionamentos assumidos pelas participantes¹. De forma complementar, investigará de que forma as entrevistadas se apropriam de discursos hegemônicos acerca da feminilidade para dar sentido às suas estórias pessoais². Os resultados demonstram que as participantes ora apelam para os motivos externos que justificam suas escolhas (como a falta de opção que marca a trajetória de populações marginalizadas como os favelados ou o envolvimento com parceiros criminosos), ora assumem total responsabilidade por terem se envolvido com o tráfico de drogas. Neste último caso, é comum que citem o poder e o respeito que experimentavam como traficantes como o principal motivador para suas escolhas.The goal of the present article is to discuss the traditional victimization of women who get involved in criminal activities, focusing on agency and personal initiative as the main motivators. Through the discursive analysis of qualitative interviews with five women with a history in drug trafficking in Rio de Janeiro we sought to capture the dilemmas that characterize the ways in which these women justify their participation in a traditional male activity. At a micro level, the analysis focuses on the rhetoric efficacy of the different positions assumed by the participants¹. At a macro level, the analysis investigates how the participants appropriate different discourses about womanhood in order to give sense to their personal histories². The results show that the participants oscillate between appealing to external causes for justifying their choice (such as the lack of options characterizing the trajectory of marginalized populations and the personal involvement with criminal partners) and assuming responsibility for having been involved in drug trafficking. In this case, they often mention the power and respect they used to experience as traffickers as the main motivator for their criminal trajectory.
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Barcinski, M. (2009). Protagonismo e vitimização na trajetória de mulheres envolvidas na rede do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Ciência & Saúde Coletiva, 14(2), 577–586. https://doi.org/10.1590/s1413-81232009000200026
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