Para a comunicação científica, este é o melhor dos tempos. As facilidades trazidas pela informatização da produção editorial e pela inigualável amplitude de acesso proporcionada pela internet provocaram o que se poderia chamar nova explosão da informação, um big bang que gerou ondas de choque que tardarão muito tempo a arrefecer. Para a comunicação científica, este é o pior dos tempos. A produção de textos oriundos das universidades e outras instituições de pesquisa tem sido crescente. A cada semana surgem novos títulos de periódicos, principalmente em formato eletrônico. A comercialização da informação científica, baseada em pressupostos predominantemente mercantilistas, gerou descomunal aumento dos preços das assinaturas de periódicos, independentemente do formato em que se apresentam. Parece ter surgido um tácito e maléfico consórcio de interesses (uma parceria?) entre os produtores da informação e as editoras de revistas científicas. A ética da publicação de resultados de pesquisas é questionada. Sucedem-se as denúncias de fraude, fabricação de pesquisas, falsificação de resultados, plágios, solertes ou simplórios. Veja-se o recente caso da pesquisa com células-tronco. Não que o comportamento antiético em ciência seja novidade. Mas sua incidência tem aumentado grandemente nas duas últimas décadas. Do lado da chamada " produção científica " , começa a se tornar rotineira, em muitas disciplinas, inclusive na ciência da informação, a busca insaciável por currículos nos quais o número de trabalhos publicados supera o que seria razoável durante a vida útil de um ser humano. Se isso reflete o fato incontornável de que a pesquisa científica, para obter resultados, necessita muitas vezes aprofundar-se no estudo de particulares cada vez mais específicos, também reflete a adoção de uma atitude em que os achados das investigações são apresentados de forma desnecessariamente fragmentada e às vezes prematura. Quem desconhece a expressão inglesa salami publishing? Os autores fatiam suas pesquisas em muitas e magras fatias, de modo que a cada uma delas corresponda um trabalho a ser publicado. A avaliação de originais pelos pares, mecanismo eficiente em situações ideais, com alta disponibilidade de pares competentes e baixa quantidade de trabalho, cercada de respeito mútuo e desprendimento, não tem estado isenta de críticas. Há mecanismos de fuga à publicação de artigos em revistas conceituadas, cujos prazos de publicação podem ser longos e a avaliação exigente. Um deles parece ser a proliferação de coletâneas de trabalhos como volumes independentes, com freqüência financiados por agências de fomento à pesquisa. Quem avalia essas colaborações? Os organizadores das coletâneas?
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Lemos, A. A. B. de. (2005). Publicar e perecer. Ciência Da Informação, 34(2), 7–8. https://doi.org/10.1590/s0100-19652005000200001
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