O Brasil é um país decididamente multilíngue. A surpreendente diversidade de línguas e variedades dialetais, que para muitos pode ser uma descoberta, pouco conhecida e ameaçada, é o primeiro ponto para o qual este artigo quer chamar a atenção. Fala-se em “língua”, mas esta palavra e os sentidos a ela associados, sobretudo no senso comum, são raramente postos em discussão. Aquém e além de uma definição estritamente linguística, “língua” é basicamente um construto ideológico ocidental, não compartilhado, como tal, pelas línguas ameríndias, onde outras palavras, sentidos e micropolíticas são mobilizados. O mesmo pode ser dito dos mitos ocidentais sobre a “origem” da linguagem/línguas, já que palavras, falas e conceitos ameríndios apontam para outras visões e apreensões. A partir de uma interpretação da “dança dos números” a respeito das línguas originárias no Brasil, outro tema abordado diz respeito aos não poucos movimentos de retomada de línguas originárias, consideradas “extintas”, movimentos efervescentes, sobretudo no nordeste brasileiro. A última parte do texto volta às macropolíticas pressupostas e implicadas pelas desventuras das línguas ameríndias no cenário englobante da escolarização, da escrita, de leis e da retórica oficial.
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Franchetto, B. (2020). Língua(s): cosmopolíticas, micropolíticas, macropolíticas. Campos - Revista de Antropologia, 21(1), 21. https://doi.org/10.5380/cra.v21i1.70519
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