É comum nos ambientes acadêmicos e de ensino superior, pelo menos no Brasil, tratar o legado teórico de Karl Marx como excessivamente preocupado com os aspectos econômicos do desenvolvimento social. Particularmente, em um curso de Geografia, aonde tive minha formação inicial acerca do pensamento marxiano e do legado marxista que se desdobrou no século XX e início do XXI, fomos ensinados sobre como essa corrente epistemológica e o seu respectivo método – o materialismo histórico e dialético – são úteis para se analisar facetas da realidade que sejam destacadas pelas desigualdades sociais e territoriais. Uma das limitações mais ressaltadas das produções marxiana e marxista seria a de que estas não se preocupam (e nunca se preocuparam) com as lutas contra diferentes tipos de opressão além da oposição capital x trabalho e da causa proletária, eminentemente masculina, heterossexual, branca e europeia. Lutas antirracistas, anticoloniais, de cunho ecológico ou por pautas a favor da emancipação LGTQIA+ seriam totalmente desconsideradas e diminuídas em sua importância pelos marxistas, relegando esse pensamento para um nicho específico do embate contra o sistema capitalista. Evidentemente, o próprio Karl Marx não realçou as diversas lutas anti-opressão, perante os avanços e as exigências dos debates e das práticas construídas ao longo dos séculos seguintes a sua vida. Isso seria completamente anacrônico. Também seria um esforço tremendo, e até sobre-humano, que Marx tivesse abarcado todos os aspectos considerados indispensáveis para uma transformação completa da sociedade, a partir dos meios materiais disponíveis em sua época. O que ele se propôs – e podemos dizer, realizou brilhantemente – foi uma análise crítica da economia política sob a égide do capitalismo no século XIX. Como parte disso, muitos aspectos da sociedade foram esmiuçados, mas não a sua totalidade. Como consequência de sua obra monumental, em alto nível de abstração, muitos elementos por ele identificados ainda permanecem válidos nos dias de hoje. Outros tantos precisam de atualização. Outros mais necessitam de uma formulação completa.
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Cocato, G. (2021). O ecossocialismo de Karl Marx. Boletim de Geografia, 39, 1–5. https://doi.org/10.4025/bolgeogr.v39.a2021.e59617
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