A principal organização que deve preparar os profissionais do futuro é a Instituição de Ensino Superior (IES). Neste sentido, precisa estar atenta às transformações que ocorrem no ambiente em que está inserida e adaptar-se para a formação de estudantes capazes de serem agentes das mudanças exigidas no futuro. No Brasil, infelizmente, o ensino superior foi, ao longo dos anos, sendo sucateado em nome da democratização de oportunidades. Prédios, equipamentos e, principalmente, professores foram improvisados para que tivesse um número maior de cursos e vagas. A preocupação com a educação no Brasil parece não ter sido levada em conta. Essa questão é levantada por Oliveira (apud Costa, p. 3-4) quando argumenta que: “A educação nunca foi levada devidamente a sério nem pela sociedade, nem pelo governo brasileiro, As escolas e as universidades, o saber, mesmo o saber aplicado, jamais, em nossa história, receberam da sociedade e dos poderes públicos uma forma de atuação continuada”. Apesar de já ter passado uma década, essas palavras ainda tem uma conotação social. No caso específico de ensino de Contabilidade será que a situação é diferente? Vários são os trabalhos que abordam esse assunto. E a conclusão que se tem é de que as escolas não estão cumprindo às exigências do campo de avanço profissional contábil. Iudícibus e Marion (1986, p. 51-53) assentam que a situação é delicada e apontam como principais deficiências na metodologia do ensino de Contabilidade Introdutória; proliferação das instituições de ensino e órgãos de classe; e falta de exame de suficiência de âmbito nacional para o exercício da profissão. Dentre as deficiências apresentadas, a que este artigo pretende abordar é a falta de preparo do corpo docente da Contabilidade. A opção por um trabalho desta natureza decorre da importância da qualidade na educação para o desenvolvimento da sociedade em geral e da relevância do ensino de Contabilidade como área específica de interesse na formação de profissionais, cujo desempenho é essencial ao bom funcionamento e aos resultados de todo tipo de organização. A melhoria na qualidade de ensino não depende somente das mudanças curriculares e estruturais das instituições de ensino superior, mas principalmente, da seriedade, dedicação e compromisso assumido pelos professores na capacidade de formar bons profissionais e não apenas informá-los sobre alguns conteúdos. Os professores de uma instituição são um dos principais agentes de mudanças no ensino. De nada adiantará ter-se um currículo adequado, um programa bem definido, muitos recursos financeiros, etc., se o corpo docente não estiver qualificado para ensinar a matéria com dedicação e compromisso. “Qualquer disciplina que for dada, o professor dá o que ele sabe e da maneira que sabe.”1 No ensino da Contabilidade, geralmente grande parte dos professores é recrutada entre profissionais de sucesso (!) em seu ramo de atuação que, em sua maioria, estão despreparados para o magistério, não tendo noção do que é exigido para formação de alunos. O professor não deve estar preocupado apenas em passar para o aluno os conhecimentos que sabe, mas fazer o aluno aprender a aprender e para isso é preciso estar preparado. 1 MARTINS, Eliseu. Pronunciamento como membro de Comissão Examinadora de defesa de tese de doutoramento, em 30/10/98, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Formação do Corpo Docente dos Cursos de Graduação em Contabilidade no Brasil: Uma Análise Crítica Caderno de Estudos, São Paulo, FIPECAFI, nº 21 – Maio a Agosto/1999 2 Preocupados com essa situação professores e profissionais2 tem apresentado artigos e trabalhos em revistas, seminários e congressos destacando os problemas relacionados à qualificação e formação do contador. Essas evidências levam a formulação dos seguintes questionamentos: 1. Por que o corpo docente dos cursos de Ciências Contábeis, em sua maioria, possui uma formação deficiente? 2. Quais são as propostas para a melhoria da formação dos professores dos cursos de Ciências Contábeis? Em decorrência das questões apresentadas, o objetivo geral deste artigo é identificar as principais causas do sofrível desempenho de grande parte dos professores de Contabilidade, bem como levantar propostas para superação desse preocupante problema. Para o desenvolvimento deste estudo, optou-se por uma pesquisa de campo e para isso foi adotada a metodologia de pesquisa empírico-analítica que, segundo Martins, G. A (1994, p. 26), refere-se a abordagens que “privilegiam estudos práticos. Suas propostas tem caráter técnico, restaurador e incrementalista. Tem preocupação com a relação causal entre as variáveis.” A coleta dos dados foi efetuada em dois momentos. Primeiro realizou-se levantamento de dados secundários referentes à titulação e ao regime de trabalho dos docentes de Contabilidade. Foram consultados na Secretaria de Educação Superior (SESu), no MEC em Brasília (DF), os catálogos referentes ao ano de 1997 das Instituições de Ensino Superior (IES) de todas as regiões do Brasil. Esses catálogos foram remetidos pelas instituições à SESu em comprimento à Portaria do MEC no. 971, de 22/08/97, que exigia informações sobre os dirigentes da Instituição, corpo docente, biblioteca laboratórios, etc. Esse levantamento teve uma abrangência de 256 IES, eqüivalendo a 76% do total de instituições que possuem cursos de Ciências contábeis no Brasil. No segundo momento foram efetivadas 12 entrevistas em profundidade (individual) e um encontro de entrevistas em grupo – focus group (com 10 participantes) com pessoas ligadas às seguintes áreas: • Professores e profissionais especializados em ensino e pesquisa na área de Ciências Contábeis, principalmente autores de livros, de pesquisas, etc; • Professores e profissionais especializados em ensino e pesquisa na área de Educação; • Componentes da Comissão de Especialistas de Ensino de Ciências Contábeis (CEE/Contábeis) vinculada à SESu/MEC; • Presidente do Conselho Federal de Contabilidade; • Chefes de departamentos de Ciências Contábeis de algumas instituições de Ensino Superior; • Grupo de professores de Contabilidade que integram a turma especial de docentes no curso de Pós-Graduação (Mestrado) em Controladoria e Contabilidade na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, provenientes de Universidades localizadas em vários estados brasileiros. A entrevista, em profundidade, admite que o entrevistador interrogue individualmente o entrevistado o torna possível esclarecer dúvidas, tanto em relação à pergunta quanto à resposta. Marconi & Lakatos (1982, p. 70) preconizam que a entrevista “é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional”. A técnica de focus group é conceituada por Oliveira & Freitas (1998, p. 83) como “um tipo de entrevista em profundidade realizada em grupo, cujas reuniões apresentam características definidas quanto a proposta, tamanho, composição e procedimentos de condução. O foco ou o objeto de análise é a interpretação e descrição dos dados pesquisados, o tipo de entrevista utilizada foi a estruturada. Foi elaborado um roteiro contendo nove questões iguais para todos os entrevistados. Segundo Gil (1994, p. 117), a entrevista estruturada desenvolve-se a partir de “uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanece invariável (sic) para todos os entrevistados”. 2 MOREIRA (1996); IUDÍCIBUS & MARION (1986); FAVERO (1992); ONU
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Nossa, V. (1999). Formação do corpo docente dos cursos de graduação em Contabilidade no Brasil: uma análise crítica. Caderno de Estudos, (21), 01–20. https://doi.org/10.1590/s1413-92511999000200005
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