No Brasil, a configuração do campo científico e sua influência na estruturação do campo da pós-graduação stricto-sensu, de modo geral e na Educação Física, apresenta características marcantes do ideal de ciência dos Estados Unidos (EUA). Assim, o objetivo foi identificar aspectos do campo científico norte-americano e sua influência na pós-graduação em Educação Física no Brasil. Para o encaminhamento metodológico, utilizamos a revisão de literatura. A relação entre Brasil e Estados Unidos firmada na década de 60 (séc.XX) com a parceria entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e o United States Agency for International Development (USAID) contribuiu para a elaboração do Parecer CFE 977/65. O documento trouxe a estrutura norte-americana como modelo para implantação e funcionamento dos cursos de mestrado e doutorado em todas as áreas no país. Consequentemente, o Brasil importou aspectos do paradigma científico norte-americano instaurado nos EUA com a publicação em 1945, do documento Science, the Endles Frontier, de Vannevar Bush. Basicamente, o avanço social e econômico só seria possível se o país fosse potência no campo da ciência. A crença era de que, com recursos financeiros voltados para o aumento do volume de pesquisa de base, considerada capital científico, o avanço tecnológico seria decorrência natural. Assim, predominou a visão de ciência fundamentada na produtividade científica, de caráter básico e norteada pelas ciências naturais, predominante no campo científico e na pós-graduação nos EUA no período pós II - Guerra Mundial. Por sua vez, as regras do campo científico norte-americano também prevaleceram no campo científico internacional. A consequência foi que os cursos de pós-graduação em Educação Física nos EUA precisaram enquadrar-se à concepção hegemônica de ciência, direcionando para a produção de conhecimento básico voltada para a produtividade e vinculada às ciências biológicas. E o resultado da relação Brasil-EUA, no geral, foi que o sistema de avaliação da Capes, mesmo estabelecendo parâmetros que elevaram a qualidade da pósgraduação brasileira, priorizou a formação para a pesquisa e a produtividade científica seguindo padrões internacionais. Para a Educação Física brasileira, além do predomínio da quantificação do conhecimento, a decorrência foi a adoção de padrões de avaliação das pós-graduações dominantes no campo da pesquisa básica, e os cursos foram estruturados seguindo a concepção científica atrelada às ciências naturais, em específico à biologia. Consideramos que o uso predominante de indicadores específicos das ciências naturais na avaliação vem prejudicando a análise dos programas das áreas aplicadas e das ciências humanas e sociais. Além do mais, a padronização do sistema dificulta a avaliação de áreas novas, de caráter interdisciplinar, e que não se enquadram no modelo avaliativo de disciplinas tradicionais, como é o caso da Educação Física.
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MAIA DA SILVA, P., MARCHLEWSKI, C., NAKAMURA, F., & SORIANO, J. B. (2011). Campo científico norte-americano e pós-graduação em educação física: aspectos históricos. In VII Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana - Motriz - Revista de Educação Física (p. s359).
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