HÁ ALGUNS ANOS recolhi a memória do tempo, do espaço, a política e a do trabalho de velhos moradores de São Pau lo. Conversei longo tempo com eles e, enquanto ouvia suas narrativas, ia aprendendo alguma coisa sobre a situação da velhice na sociedade industrial – tema dos mais dignos a serem estudados por militantes políticos e culturais. A memória dos velhos desdobra e alarga de tal maneira os horizontes da cultura que faz crescer junto com ela o pesquisador e a sociedade em que se insere. Vou relatar brevemente alguns dados obtidos na pesquisa. Se alguém colhe um grande ramalhete de narrativas orais, tem pouca coisa nas mãos. Uma história de vida não é feita para ser ar- quivada ou guardada numa gaveta como coisa, mas existe para transformar a cidade onde ela flores- ceu. A pedra de toque é a leitura crítica, a inter- pretação fiel, a busca do significado que transcen- de aquela biografia: é o nosso trabalho, e muito belo seria dizer, a nossa luta.
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Bosi, E. (2003). Memória da cidade: lembranças paulistanas. Estudos Avançados, 17(47), 198–211. https://doi.org/10.1590/s0103-40142003000100012
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