114 INTRODUÇÃO Ao contrário do que por vezes parece ressaltar de algumas declarações de pessoas mais ou menos relacionadas com o fenómeno desportivo, o estudo da Psicologia do Desporto (PD) não é recente, porquanto parece ser consensual situar o seu 'nascimento' entre o final do século XIX e o início do século XX. Na realidade, ainda que exista uma ligeira divergência quanto ao exacto momento em que isso sucedeu – apesar da esmagadora maioria dos que escreveram sobre a história da PD (4, 9, 10, 17) ter indicado o clássico estudo de Triplett, realizado em 1897 sobre a facilitação social do rendimento em provas de ciclismo, como o primeiro relacionado com a PD, tanto Salmela (14) como Biddle (1) chamaram a atenção para o facto de outros autores terem destacado que antes do estudo de Triplett já haviam sido desenvolvidos estudos sobre outros assuntos igualmente enquadráveis no âmbito da PD, como, por exemplo, os efeitos da hipnose na resistência muscular, ou a psicologia da calistenia – esse momento é já claramente centenário. Todavia, e independentemente da relativa controvérsia que pode envolver a determinação de qual foi exactamente o primeiro estudo sobre os factores psicológicos em contextos desportivos, parecem não subsistir quaisquer dúvidas relativamente ao momento marcante da evolução que se verificou neste domínio nos últimos anos. Efectivamente, os autores que têm estudado a história da PD são unânimes em reconhecer que esse momento se verificou em 1965, com a realização do I Congresso Mundial de Psicologia do Desporto, em Roma. Para a assunção da PD como uma ciência, havia que definir claramente o seu objecto de estudo e metodologia própria, o que só veio a acontecer na sequência da dinâmica imprimida a partir do Congresso de Roma. Nesse sentido, a PD deve ser entendida como uma ciência bastante recente, ainda que com raízes antigas. O estudo da PD permaneceu pois, durante muitos anos, praticamente 'no limbo', já que entre o momento em que foi desenvolvido o primeiro estudo e o Congresso de Roma não foram muitos os que se interessaram por desenvolver esforços neste domínio. Ao invés, a partir de 1965, a dinâmica tem sido completamente distinta, assistindo-se hoje a um interesse claro e manifesto pelo que se produz no âmbito da PD, razão pela qual também são cada vez mais os que envidam esforços nesse sentido. Ainda que a evolução da PD tenha estado sempre bastante dependente da comunidade norte-americana, progressivamente tem-se assistido ao aumento do interesse por esta temática noutros países. Por exemplo, Salmela (14) salientou que de aproximadamente 1300 indivíduos interessados e activos na PD em 39 países distintos, que calculava existirem em 1981, se passou para mais do dobro em 1990, altura em que estimava existirem já mais de 2700, distribuídos por 61 países. Actualmente, como seria de esperar, os números são substancialmente mais elevados. Por exemplo, se nos concentrarmos apenas na realidade norte-americana, verificamos que cada uma das principais associações científicas e/ou profissionais aí sediadas – a que nos referiremos posteriormente – conta neste momento com mais de 1000 membros, o que, não obstante alguns estarem afiliados a mais do que uma associação, indicia que o número estimado de 750 psicólogos do desporto existentes em 1990 (14)
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Fonseca, A. M. (2001). A Psicologia do Desporto e a “batalha da qualidade.” Revista Portuguesa de Ciências Do Desporto, 2001(1), 114–123. https://doi.org/10.5628/rpcd.01.01.114
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