Pelo mundo, adolescentes e jovens protagonizam estilos de vida, mudanças comportamentais e inovação cultural, ao mesmo tempo que lidam com problemas sociais e políticos que visam refrear seus movimentos, bem como a exploração máxima de seus anseios pelo mercado, numa dinâmica que esvazia subjetividades em nome de lucros. Estes descompassos aprofundam o distanciamento entre os diferentes segmentos da sociedade, esti-mulando problemas históricos como o autoritarismo e o preconceito que, travestidos de novas roupagens e linguagens, (re)produzem uma sociedade em que avanços sociais são vistos como estímulo ao ócio; valorização da diversidade cultural como apologia à desestruturação social; política como corrupção; movimentos sociais como terrorismo; liberdade de escolha como ofensa; violência civil e policial como solução para problemas sociais; e meritocracia entre desiguais como panaceia salvacionista de mercado. Nestas sociedades conflituosas, adolescentes e jovens são protagonistas de processos sociais, culturais, políticos e econômicos que, sinérgicos ou contraditórios, repercutem direta e indiretamente em suas con-dições de vida e saúde. Refletir sobre estas repercussões é o objetivo deste Número Temático. Seus artigos refletem aspectos da vida de adolescentes e jovens em 5 Países: Brasil, Portugal, Argentina, Uruguai e Escócia, opção que visa uma leitura articulada, sob perspectiva, que contribua com processos reflexivos e de tomadas de decisão. Tematicamente, a seleção de artigos proporciona um corpo de textos reflexivos e de base empírica voltado para questões relevantes: suicídio, heteronomia e envolvimento com crime são abordados de maneira ensaística por textos que propõem, com maior ou menor ambição, novas/diferentes abordagens sobre seus objetos de estudo. Sistemas socioeducativo e prisional, ODS/Agenda 2030, violência na escola, saúde sexual e saúde reprodutiva, carga de doenças e políticas de saúde são os temas abordados pelos textos internacionais; violência no trânsito, saúde na escola, saúde bucal, anorexia e aborto são o foco de estudos empíricos que articulam fontes primárias e secundárias, avançando em suas abordagens pela atualização dos dados ou pela inovação proveniente dos depoimentos dos adolescentes e jovens. O Número Temático oferece, assim, subsídios para políticas públicas em âmbito nacional e interna-cional. Mais importante: confirma a extrema necessidade destas políticas como garantidoras de direitos e instrumento de justiça social 1. Conjunturas políticas nas quais os recursos públicos para as políticas sociais escasseiam em nome de ajustes fiscais, ainda mais quando feitos para durar 20 anos, têm como principal resultado a ampliação da desigualdade, da injustiça e da falta de perspectivas futuras. Os adolescentes e jovens são fortes e preparados para enfrentarem iniquidades e injustiças, pois disso depende suas existências imediatas. Contudo, a negação das perspectivas futuras, a restrição drástica de horizontes possíveis de vida, é o desafio que, sem apoio público, não conseguirão superar. Impedir um jovem de sonhar com um futuro é prendê-lo em uma realidade desoladora e o crime organizado compreende isto muito bem 2. O investimento público em adolescentes e jovens, consenso maior do Número Temático, é a única forma democrática de lhes restituir possibilidades de futuro que, ao fim e ao cabo, são as possibilidades de futuro de cada sociedade.
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Moreira, M. R., Ribeiro, J. M., Motta, J. I. J., & Hartz, Z. (2018). Adolescência e Juventude: políticas públicas e condições de vida e saúde em perspectiva internacional. Ciência & Saúde Coletiva, 23(9), 2782–2782. https://doi.org/10.1590/1413-81232018239.20172018
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