UMC As mudanças econômicas e sociais ocorridas nas duas últimas décadas provocaram a obsolescência de cer-tas concepções acerca do papel da universidade. É preciso, por isso, desenvolver outros referenciais para se analisar tal tema. Neste ensaio, abordamos a crise do sistema uni-versitário à luz da emergência da universidade mercantil, novo mode-lo de universidade para o presente e para o futuro. O MERCADO UNIVERSITÁRIO Há cerca de 40 anos, intelectuais concebiam a universidade como um instrumento de resistência à domi-nação e opressão por parte das clas-ses dominantes. Havia entre eles aqueles que, visando à destruição do capitalismo, elaboravam estratégias para fazer dela uma trincheira da revolução socialista. Os tempos mudaram, tornando essas perspectivas anacrônicas. No entanto, não se pode ignorar o fato de que a universidade é ainda hoje um poderoso espaço de transmissão de ideologia, na medida em que é o lugar privilegiado para a formação no nível superior. Foi para ter do-mínio sobre ela que papas, prínci-pes, reis, legisladores, ditadores e governantes lutaram. É também por esse motivo que a UNESCO a con-sidera um espaço privilegiado para a construção de uma cultura de paz, baseada no respeito à diversidade cultural, aos direitos humanos, ao meio ambiente e à democracia. É raro encontrarmos hoje pessoas que acreditam ser a universidade uma ferramenta para a revolução socialista. Mas não é incomum en-contrarmos professores e alunos que, a partir da universidade, que-rem fazer sua própria revolução, sua própria mudança, e à sua maneira: é o jovem estudante da FGV-EAESP que desenvolve seu projeto de marketing social, em benefício de uma ONG; ou os estudantes do Ibmec que desenvolvem projetos comunitários como parte do Progra-ma Universidade Solidária; ou os estudantes da UMC que ensinam, aos carregadores da Ceagesp, ler e escrever; ou então os alunos da PUC que desenvolvem ações em prol do MST. Todas essas iniciativas fazem da universidade o palco de uma re-volução fragmentada, sem rumo cer-to, sem as grandes metanarrativas que orientavam os antigos projetos revolucionários utópicos, mas com o mesmo espírito humanista que os norteavam. O cenário da educação superior brasileira vem passando por profun-das mudanças desde a instituciona-lização do mercado universitário, que se caracteriza pela acirrada con-corrência entre as instituições para atrair clientes-consumidores.
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Calderón, A. I. (2004). Repensando o papel da universidade. Revista de Administração de Empresas, 44(2), 104–108. https://doi.org/10.1590/s0034-75902004000200009
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