Quando, em 2 de outubro de 2009, em Copenhague, a cidade do Rio de Janeiro foi anunciada como a sede dos Jogos Olímpicos de 2016, pensei atônita o quão pouco dirigentes olímpicos de todo o mundo conheciam sobre o Brasil. Menos eufórica que a maioria dos colegas próximos ou distantes, pensei em tudo o que poderia acontecer naqueles sete longos anos que estavam por vir. De imediato não pensei nas dimensões administrativas nem organizativas que dois anos antes já haviam sido ensaiadas na realização dos Jogos Pan-Americanos. Ali já se desvendara muitas das mazelas de um modo singular de conduzir a coisa pública: falta de planejamento ou um planejamento irreal, a morosidade na condução de licitações e concorrências obrigatórias para que no limite do prazo tudo fosse realizado em caráter de urgência sem os necessários trâmites legais, ou ainda, a inexistência de um projeto posterior de uso do bem público para benefício da população duramente atingida em seu cotidiano por obras que alteraram radicalmente a vida em uma cidade já caótica. O que pensei naquela tarde, olhando pela janela, foi que ainda estavam por vir duas eleições nas diferentes esferas de poder, todas elas envolviA imagem do Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro Katia Rubio das na realização dos jogos, poder esse partilhado por políticos de diferentes partidos, com visões de mundo e de Brasil muito distintas, muito embora, naquele momento, parecessem amigos de infância. Embora eu não defendesse a candidatura brasileira, no momento em que o resultado foi anunciado, pensei que como cidadã e pesquisadora eu deveria me envolver naquilo que estava por vir. Nos meses e anos que se seguiram, nos vários congressos internacionais dos quais participei, a pergunta que sempre tentava responder era como o Brasil, a sexta maior economia de então, país emergente que sobreviveu sem solavancos à crise de 2008, realizaria um evento das proporções dos Jogos Olímpicos tendo outros tantos problemas para resolver. Mais de uma vez respondi tentando resgatar um pouco de nossa história “republicana”, mostrando que a democracia no país era não mais do que uma criança e o que eu mais temia era a estabilidade democrática, tão duramente construída nos últimos anos. Mas, por mais que eu me esforçasse em explicar o que isso significava, o que havia sido o período da ditadura militar ou como as instituições ainda eram frágeis, o imaginário idílico que cerca essa nação tropical, uma espécie de Shangrilá latino-americana, abençoada por Deus e bonita por natureza, se sobrepunha aos argumentos objetivos de que corríamos sérios riscos nesse processo. Ou seja, mais do que discutir no plano da objetividade, era necessário apresentar e desconstruir um campo simbólico fortemente enraizado no imaginário internacional sobre o que é e o que foi o Brasil nos últimos anos, ou melhor, séculos. Realizados os Jogos Olímpicos de 2016, é tempo de fazer um balanço sobre o ocorrido nessa Ilha de Vera Cruz que, durante alguns anos, foi objeto de curiosidade e atenção por parte de pesquisadores e interessados em esporte, ou não, de todo o mundo. O objetivo deste artigo é discutir as narrativas construídas sobre o Brasil ao longo da realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro 2016 a partir dos símbolos e cerimônias criados para esse fim.
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Rubio, K. (2017). A imagem do Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Revista USP, (110), 66–71. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i110p66-71
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