A propósito da utilização de células-tronco embrionárias

  • Segre M
N/ACitations
Citations of this article
28Readers
Mendeley users who have this article in their library.

Abstract

258 desenvolvimento de novas técnicas de reprodução assistida. As técnicas de repro-dução assistida (RA), intervindo na junção dos gametas masculino e feminino, produzindo-se um embrião (ou pré-embrião, como muitos preferem denomi-nar, nessa fase), requerem a replicagem desses "conceptos" para que haja expec-tativa de êxito com sua implantação no útero: há, portanto, praticamente sempre embriões excedentes, que habitualmente são congelados, mas cuja utilização para se dar prosseguimento ao processo concepcional é muito improvável. Assim, como, aliás, também ocorre nas situações em que clinicamente se indica a redu-ção embrionária (proteção da vida da mulher gestante, que não pode suportar mais do que um número definido de fetos), há que se encontrar uma forma, que a lei avalize, de se poderem descartar embriões. E, para que isso possa ocorrer, será necessário que se modifique o conceito de momento de início da vida, uma vez que, na maioria dos países, o direito à vida é cláusula pétrea das Constitui-ções (exceção seja feita, conforme já se referiu, aos países em que, embora se reconheça como momento de início da vida a fecundação, permite-se a prática do aborto). É, portanto, indispensável que se altere o conceito de momento de início da vida, visando aos referidos objetivos absolutamente pragmáticos, ou que se abram exceções legais que permitam a inutilização de embriões-ou, de sua utili-zação para outros fins, e é este, especificamente, o assunto de que iremos tratar, neste artigo-ou, então, finalmente, que se proíbam todas essas novas técnicas, que, ao menos em princípio, visam à busca de melhor qualidade de vida para pes-soas que desejam procriar! Absolutamente inaceitável é, entretanto, o caráter retrógrado de conceituações e leis existentes, a menos que se deseje, como ocor-re no conto "O aprendiz de feiticeiro"-no caso específico da reprodução assis-tida-que o homem, tendo o poder de replicar embriões ao seu talante, não os possa destruir, quando eles não fossem ser aproveitados, tornando-se, portanto, vítima de seu "feitiço". Afinal, a vida é um continuum, que, mesmo abstraindo-nos das crenças atinentes à espiritualidade, poder-se-ia considerar tendo seu início material nos pré-gametas e seu fim na esqueletização do cadáver. Milhares de trabalhos já foram escritos sobre a partir de quando e até quando se reconheça que um ser humano é pessoa (e este, certamente, não será um deles), mas é absolutamente evidente o caráter inerente a uma cultura, aleatório e pragmático da tentativa de se estabelecer esses limites. Ademais, as condições instrumentais em que se produz laboratorialmente um ovócito-pelo "encontro" dos gametas, e construção de uma célula diplóide a partir de duas haplóides-, bem como a possibilidade de se replicar esse produ-to, configuram um universo totalmente diferente daquele da fecundação "natu-ral ". Pretender-se estender os conceitos vigentes quanto ao "ínício da vida"-dogmaticamente no instante da concepção-a essas novas situações, artificiais, já configura uma perversão lógica, realizada sob o pretexto de se quererem incluir

Cite

CITATION STYLE

APA

Segre, M. (2004). A propósito da utilização de células-tronco embrionárias. Estudos Avançados, 18(51), 257–262. https://doi.org/10.1590/s0103-40142004000200017

Register to see more suggestions

Mendeley helps you to discover research relevant for your work.

Already have an account?

Save time finding and organizing research with Mendeley

Sign up for free