Karl von Frisch, ganhador do prê- mio Nobel, biólogo comportamental e descobridor da comunicação pela dança em abelhas, observou que a vida desses insetos é como um poço mágico; quan- to mais você tirar dele, mais ele se enche de água. Mas o que ele teria dito sobre o mundo das formigas, ou mesmo sobre o mundo das poneromorfas? Um único gê- nero de abelhas com apenas nove espécies é tão excitante e há tantas coisas para para des- cobrir que dá para preencher a vida cien- tífica de centenas de geneticistas, etólogos e ecologistas, para não mencionar os mi- lhares de apicultores e funcionários dos centros de pesquisa sobre abelhas. O que, então, podemos esperar dos aproxima- damente 70 gêneros de Amblyoponinae, Ectatomminae, Heteroponerinae, Parapo- nerinae, Ponerinae e Proceratiinae, repre- sentados por cerca de 1.800 espécies? Mesmo uma rápida olhada nas fo- tografias de microscopia eletrônica de varredura do catálogo de Bolton ilus- trando os gêneros de formigas do mun- do deveria despertar o interesse de qual- quer um que gosta da natureza. O que Thaumatomyrmex está fazendo no mundo com os suas forquilhas faciais? Por que Discothyrea mantém constantemente seuseu abdômen enrolado? E como é a sensação de ser picado pelas tocandeiras gigantes do gênero Paraponera? Além destas reflexões espontâneas de amador, os mirmecólogos do mundo inteiro têm considerado as poneromorfas por muito tempo modelos ideais para es- tudar diversos aspectos da vida social das formigas, para desvendar sua função nosecossistemas, e usá-las para redesenhar a evolução precoce da eusocialidade. Em particular, espécies sem nenhuma diferen- ça morfológica entre reprodutores e não reprodutores, tais como as Dinoponera ou diversas Platythyrea, tornaram-se mo- delos estimulantes para pesquisar como indivíduos morfologicamente uniformes puderam alcançar uma divisão de traba- lho reprodutivo estável e como conflitos familiares entre indivíduos totipotentes são resolvidos. Outros táxons foram utili- zados para elucidar a ação de poderosos e, às vezes alergênicos, venenos, a flexibilida- de dos sistemas de comunicação química e acústica, ou a evolução do cariótipo. A presente compilação cobre gran- de parte do que é preciso saber sobre as formigas poneromorfas neotropicais. Seus 30 capítulos bem escolhidos dão uma vi- são geral apropriada sobre a sua história taxonômica, ecologia e comportamento, e serão de grande ajuda para todos que es- tudam as formigas nas Américas do Sul e Central. Ela vai certamente interessar ento- mólogos novatos e amadores interessados pela Mirmecologia e, desta forma, garante que, assim como a abelha mágica de von Frisch o fez perfeitamente, a pesquisa vai continuar a produzir resultados excitantes e deslumbrantes sobre o mundo fascinante das formigas
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Delabie, J. H. C., Feitosa, R. M., Serrão, J. E., Mariano, C. S. F., & Majer, J. D. (2015). As formigas Poneromorfas do Brasil: Introdução. In As formigas poneromorfas do Brasil (pp. 9–12). EDITUS. https://doi.org/10.7476/9788574554419.0001
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