RESUMO A crise social e económica que tem atingido o mundo desde 2008, com efeitos especialmente sentidos nos países do Sul da Europa, causou impactos fortes e visíveis na infância, como o aumento das taxas efetivas e de risco de pobreza e a vulnerabilidade e a exposição a fatores de risco social e de perda consistente de direitos. A análise dessas incidências tem vindo a ser trabalhada num conjunto de relatórios nacionais e internacionais, de ONG’s e estudos académicos. No entanto, poucos estudos têm dedicado atenção ao modo como a interpretação das representações das crianças sobre a crise é feita e sobre as expressões específicas que estas assumem na sua vida quotidiana. As crianças são capazes de observar os modos como a crise impacta o seu próprio grupo geracional, bem como os adultos que mais lhe são próximos. Da mesma forma, promovem interpretações económicas sobre os fenómenos, sejam elas mais “ingénuas” ou mais complexas. Este artigo incide sobre as representações das crianças sobre a crise social e económica em Portugal. São especialmente analisadas narrativas gráficas produzidas por crianças oriundas de classes trabalhadoras, com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos de idade. Por meio dessas narrativas, as crianças constroem formas visuais a partir da sua imaginação sobre a sua condição. Assim, a imaginação das crianças é um modo de acesso ao conhecimento na sociedade onde se inserem e aos seus modos próprios de compreensão de realidades complexas.ABSTRACT The social and economic crisis that has hit the world since 2008, with effects strongly felt in the countries of Southern Europe, has had fierce and visible impacts in childhood with the increase of the effective rates, the risk of poverty and vulnerability, and the exposure to factors of social risk and consistent loss of rights. The analysis of these incidents has been worked on in a series of national and international reports from NGOs and academic studies. However, few studies have devoted attention to the way in which the interpretation of the representations of children about the crisis is made and the specific expressions that they assume in their daily lives. Children are able to observe the ways in which the crisis affects their own generational group as well as the adults closest to them. In the same way, they promote economic interpretations of phenomena, whether "naïve" or more complex. This article focuses on the representations of children about the social and economic crisis in Portugal. Graphical narratives produced by children from working classes, aged between 6 and 10 years old, are given focus. From these narratives, children construct visual forms from their imagination about their social condition. Thus, the child’s imagination is a way of accessing knowledge in the society they belong to and their own way of understanding complex realities.
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Sarmento, M. J., & Trevisan, G. (2017). A crise social desenhada pelas crianças: imaginação e conhecimento social. Educar Em Revista, (spe.2), 17–34. https://doi.org/10.1590/0104-4060.51387
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