O presente texto apresenta um recorte de um trabalho realizado para o programa de doutoramento em Educação da primeira autora, para o qual foram entrevistados dez professores que atuam em licenciatura em Matemática, em duas instituições de ensino superior federais do Brasil e em uma universidade pública de Portugal. Neste artigo, trazemos a trajetória de formação e atuação profissional de um desses docentes, buscando analisar de que forma se dá a constituição de sua identidade profissional. Importou-nos investigar os saberes, (pré)conceitos, valores e conhecimentos dos quais o professor lança mão para o seu fazer profissional, e ainda, de que forma suas experiências pregressas interferem na forma como ele percebe os alunos da licenciatura na qual atua como docente. A relevância do presente estudo se destaca no sentido de dedicar atenção a um professor formador de professores de matemática, campo assinalado por escassas oportunidades de compartilhamento de trabalho e reflexões conjuntas. A pesquisa, qualitativa, na perspectiva autobiográfica, baseou-se em uma entrevista narrativa, com duração de uma hora. As reflexões teóricas que embasam este trabalho centram-se nos estudos biográficos e nos estudos sobre a identidade profissional e sua constituição. A análise da narrativa do professor demonstrou um considerável hiato entre as concepções e saberes que o docente obteve nos cursos de licenciatura e mestrado, e os conhecimentos, habilidades e atitudes que se fazem prementes nas salas de aula dos cursos que formam professores. O docente, ao se ver formando professores, percebeu, nas interações com seus alunos, nos casos que estes lhe traziam de suas experiências enquanto estagiários ou como professores substitutos, que a bagagem teórica que construíra no decorrer de sua formação profissional não seria suficiente para sua atuação docente. Partiu, então, para sua autoformação de forma autônoma e isolada, formarndo-se a partir da prática e por reflexões sobre esta prática, ancorada pelas teorias as quais vai apreendendo. Para além deste hiato, fez-se igualmente evidente a angústia do narrador ante as condições de trabalho do professor das escolas públicas de ensino básico do Brasil, nomeadamente as do estado de São Paulo, nas quais o formador supõe que atuarão no futuro seus atuais alunos. Esse mal estar implica na maneira como o professor vê a profissão docente, constatando a grande distância entre suas atuais condições de trabalho e aquela vivida por seus colegas que continuam a atuar nas escolas básicas daquele estado. Estas concepções e formas de entender a escola influenciam a compreensão do professor sobre seu papel enquanto formador de professores de matemática, implicando, consequentemente, na constituição da sua identidade profissional.
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Novo, C., & Martinho, M. H. (2015). A identidade profissional de um formador de professores de matemática. Revista de Estudios e Investigación En Psicología y Educación, 052–056. https://doi.org/10.17979/reipe.2015.0.06.172
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