Este artigo pretende explorar as possibilidades de uma divergência em relação ao tratamento usual que se faz em relação ao estado como parte de uma esfera política. Partindo da crítica à própria concepção de “político” como antagônica a uma esfera “doméstica”, ajusta-se a sintonia fina de uma concepção de estado ao modus operandi de seus agentes nativos, e tem-se como principal questão justamente o fato de que a faixa de transmissão em que o estado opera tem tantos canais quantos forem possíveis de se realizar através de seus agentes. Buscando entender essa profusão de faixas, tenta-se aqui polarizar em um caso etnográfico que tematiza certas imagens privilegiadas: ausência de estado, domesticação, inimizade, o indômito, o selvagem, tomados a partir do ponto de vista de uma etnografia com militares na Amazônia. A partir disso, busca-se aqui entender como se produziu uma imagem artificial da política como sinônimo de estado, tomando conexões etimológicas, históricas e antropológicas que mostram o imbricamento entre processos estatais e um vocabulário da domesticação, que produz uma espécie de agenciamento que estou chamando de fazenda de domesticação. Por fim, a hipótese a ser defendida é que político e doméstico não se constituem em polos antagônicos, mas, antes, que o político é domesticação.
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Leirner, P. C. (2012). Estado como fazenda de domesticação. Revista de Antropologia Da UFSCar, 4(2), 38–70. https://doi.org/10.52426/rau.v4i2.76
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