História da Hemoterapia no Brasil

  • Junqueira P
  • Rosenblit J
  • Hamerschlak N
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Abstract

Quando Auguste Comte dizia : "Os mortos governam os vivos", ele traduzia de uma forma lapidar a idéia funda-mental de que toda civilização é fruto do passado e que nós não poderíamos compreender o presente sem a referência constante da herança espiritual dos nossos ancestrais. A Hemoterapia no Brasil segue os rumos de uma histó-ria apaixonante pelas situações e pelos atores que a pro-tagonizaram, desde a fase "pré-científica". De ato que era realizado pelos cirurgiões ou anestesistas para maior segurança de seus atos cirúrgicos, aos poucos foi se diferenciando como especialidade e, então, saiu das mãos daqueles especialistas para, com a criação dos bancos de sangue, posteriormente denominados serviços de hemo-terapia, tornar-se um procedimento privativo de especialis-tas hemoterapeutas. A atuação de alguns médicos pioneiros e com visão internacional da especialidade, como Pedro Clóvis Junqueira e Osvaldo Mellone, permitiu que o Brasil não ficasse distan-ciado do que estava acontecendo " lá fora " , numa época sem internet e quando a presença de especialistas estrangeiros nos eventos nacionais era um acontecimento. A atuação desses e de outros pioneiros foi marcada pelos desafios, não somente científicos mas também políti-cos, em fazer anunciar aos seus pares e à classe médica que uma nova especialidade médica estava nascendo: a Hemoterapia. Mas a Hemoterapia, como toda especialidade que rea-liza procedimentos, tem o seu contexto empresarial e, como os autores referem, esse mesmo contexto trouxe as suas ma-zelas e distorções no que pior se pode entender quando o interesse comercial sobrepõe-se aos interesses acadêmicos ou da comunidade de usuários. Assim é que foi inevitável o aparecimento dos chama-dos " banqueiros " , profissionais médicos e não-médicos e mesmo de fora da área da saúde que enxergavam aquela flu-orescente atividade como um empreendimento que não de-veria ser regido pela ética e mesmo pelo direito. A falta de controle governamental estimulou a prolife-ração de bancos de sangue que colhiam sangue de doadores remunerados, algumas vezes estimulados pelos próprios ór-gãos governamentais. Naquela época, mesmo alguns serviços públicos remu-neravam os doadores de sangue. Os fiscais do Ministério da Previdência exigiam dos serviços de hemoterapia, ainda na década de 70, a apresentação de recibos que comprovassem o pagamento dos doadores de sangue, por inferirem que o lucro do empresário não se poderia fazer à custa de doadores voluntários. A realização de exames sorológicos era uma simples questão que dependia do rigor ou da vontade das vigilânci-as sanitárias locais e quase nunca eram exigidos. Obrigatório ressaltar-se o trabalho do Dr. Augusto Gonzaga, brilhante hematologista e hemoterapeuta, um pio-neiro no tratamento multidisciplinar dos portadores de coagu-lopatias, fundador do Instituto Santa Catarina e da Casa do Hemofílico, no Rio de Janeiro, e que trouxe uma contribuição considerável e inestimável ao desenvolvimento das especia-lidades. Mas a revolução política da especialidade estava em fermentação. A especialidade estava desacreditada pelas fre-qüentes denúncias de comercialização, sem se referir outras denúncias bem mais graves e que chegaram a figurar nas páginas policiais. A principal interlocutora dos organismos internacio-nais era uma mulher, não médica – a Sra. Carlota Osório, pre-sidente da Associação Brasileira de Doadores Voluntários de Sangue, que tinha acesso aberto aos gabinetes governamen-tais, inclusive no exterior, onde era considerada a principal figura brasileira contra a comercialização do sangue e conse-guia influenciar ministros de estado nas políticas governa-mentais de saúde. A sua atuação, bastante controversa, foi fortalecida pela inércia dos agentes públicos e privados em resolverem problemas que se avolumavam na especialidade. Assim é que, nas décadas de 70 e de 80, algumas inici-ativas foram fundamentais para que a Hemoterapia brasileira ultrapassasse as barreiras do compadrio e do regionalismo. Em 1976, o médico hemoterapeuta Francisco Antonácio, do Hospital das Clínicas/FMUSP, a convite do Ministério da Saúde percorreu diversos estados do Brasil e apresentou um relatório sobre a coleta e distribuição de sangue no território A história da Hemoterapia no Brasil

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Junqueira, P. C., Rosenblit, J., & Hamerschlak, N. (2005). História da Hemoterapia no Brasil. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 27(3). https://doi.org/10.1590/s1516-84842005000300013

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